terça-feira, 12 de agosto de 2008

Sentidos (in público)

A barba
A cara
O gosto rítmico.
A rua
O beijo
O cheiro tácito.
A noite
O vinho
O gole líquido.
O ventre
As mãos
O olhar clássico.
A tez
A tese
O tesão.
Impudico
Impudica
In público.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

As crianças não são felizes.


Mas eu não poderia ser de outra forma. Se eu não fosse assim do jeito que sou não teria tido as experiências que tive, que talvez pudessem ser melhores, mas eu não veria o mundo do jeito que vejo e gosto de ver, as vezes. Eu preciso me acostumar a ser quem eu sou, e isso não seria conformismo, seria aprender a lidar comigo mesmo. É a primeira coisa que precisaríamos aprender: lidar consigo perante o mundo. Antes de aprender a andar, antes de dizer as primeiras palavras precisaríamos perceber quem somos e nos aceitar, aceitar os nossos ditos defeitos e as nossas ditas qualidades e colocá-las da melhor forma neste mundo que não aceita todas as personalidades. Talvez assim fosse tudo mais fácil, mas não é assim que as coisas acontecem. Quando você nasce já te ensinam que o que você faz certo ou errado tem um preço, se antes você sentia o mundo da forma mais intensa possível, experimentando tudo que quisesse experimentar, colocando tudo na boca para sentir o gosto, pegando e cheirando, hoje você sabe que existem limites, e esses limites foram impostos pelo mesmo tipo de pessoas que te davam uma palmada quando você colocava algo que não podia na boca quando pequeno. Não é porque agora que você é adulto vai perceber que quando criança era realmente feliz, as crianças não são felizes. É na infância que tudo começa, tudo que era permitido, tudo que te impressionou desde que você saiu da barriga da sua mãe, começa a se mostrar feio, perigoso e proibido, quando somos crianças tudo é novo, interessante e experimentável, somos mais sensíveis porque não temos ainda nada formado, nada imposto dentro de nossas cabeças, e choramos por tudo, tudo que nos é tirado, por tudo que não podemos fazer. Nossos sentimentos são brutos, a expressão deles também. É como se o mundo fosse acabar se aquele brinquedo fosse quebrado. A infância é o momento em que começamos a perceber que esse mundo não é o que parece, não é belo como tínhamos visto, nem tão possível quanto parecia ser. É na infância que temos as primeiras decepções logo depois das nossas primeiras grandes descobertas. E assim elas continuam até a adolescência e pode durar até a fase adulta, só que quando somos adultos tudo é mais aceitável, já estamos calejados, a recuperação é mais fácil, pelo menos não choramos por algum objeto que se quebrou, claro que há algumas pessoas que mesmo adultas ainda sofrem como crianças, talvez pessoas muito sensíveis que não descobriram que nesse mundo as coisas são descartáveis, ou pessoas que tiveram uma educação menos frustrante. Mas mesmo para tais pessoas o baque de se perder algo, seja um brinquedo, um emprego, uma pessoa que você goste, um sonho, ou qualquer outra coisa que se perca, não é tão grande como quando se é criança. Quando se é criança as decepções são mais doloridas, pois é a primeira vez que você vai sentir tal sentimento, seja dor ou alegria, é a primeira vez que vão te proibir, e quando você crescer já não vai poder desobedecer como antes, nem chorar como antes, te ensinam a ser forte, essa é a lei, mas isso não é força, é submissão. As crianças não são felizes, não é possível ser feliz quando tudo começa a te decepcionar, quando o sonho vira realidade, quando tudo te frustra, quando tudo dói. Mas aí vem a pergunta: se as crianças não são felizes os adultos são? Eu respondo com a pretensão de um adulto: os adultos são conformados.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Na chuva pra se molhar...


Dessa vez eu quis me molhar
tava cansada de sol.
Queria uma chuva densa, porém calma
para me molhar
me encharcar.
Quis o perigo porque a segurança é monótona.
Fugi de casa.
Me escondi entre pernas, mãos, olhos, pintas e cabelos.
Desliguei o cérebro,
Porque a razão atrapalha.
Eu queria sair,
andar de mãos dadas na escuridão,
com a escuridão me iluminando, me guiando.
Mas quando eu ia me perdendo,
alguém me achou
Disse para eu sair da chuva senão eu ia me molhar.
Mas eu quero ficar mais um pouco
e convido você a vir comigo.
Dessa vez eu juro:
É seguro
Vamos passear de guarda-chuva?!