segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Felina


Basta um afago para eu mostrar minhas unhas
Olhos amarelos
Curiosos
Ando solta pela casa
Deixo pêlos
pegadas
Molho minhas patas para me lavar
Me contorço toda pra te encantar
E no fim da noite
Eu sumo
Sou gata safada, fraca, sofrida
Não ligo pra água no cantinho da cozinha
Desejo andar pelos telhados da vizinha
E voltar felina
De novo pros afagos
Da minha querida

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Eu quis fazer um poema de amor

Eu quis fazer um poema de amor
Com rima, lirismo e redondilha
Mas ninguém quis ler
Eu quis fazer um poema de amor
Com açúcar, mel ou rapadura
Mas disseram que era doce demais para degustar
Eu quis fazer um poema de amor
Com sangue, navalhas e comprimidos
Mas disseram que doía
Eu quis fazer um poema de amor
Cantado, narrado, suspirado
Mas disseram que já era clichê
Eu quis fazer um poema de amor
Com vício, solidão e monotonia
Mas disseram que vendia mais pornografia
Eu quis fazer um poema de amor
Mas disseram...
Tantas coisas
Que o amor perdeu a poesia.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Eu busco o amor como quem busca uma lanterna no escuro. Tento iluminar o meu túnel longínquo de idéias obscuras pelo tédio do cotidiano. Enxergar meus medos, minhas vontades, meus eus preenchidos de imaginação, desejo e dedicação. Quando o amor se instala em mim é como um vagalume pousando sobre uma superfície turva. Tudo retorna a existir de uma forma ilusoriamente límpida. Preciso do amor para enxergar a luz que alguns dizem que existe. Procurar o outro, que não é só este que eu crio e amo, sair de mim, me multiplicar. Fechar os olhos e ver um mundo bem menos complicado.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Os olhos de M.

A fragilidade de M. saltava de seus olhos. Tão forte ao percorrer a vida, alegre e rebelde em seu cotidiano, puro instinto em sua liberdade. Mas nos olhos M. confessava o que era e do que tinha medo. Arregalados, doces e sofríveis. Lindos olhos quase verdes que declamavam poemas.

domingo, 13 de março de 2011

O processo

Cortes de navalha, religiões, remédios e alucinógenos. Confusões na minha mente ao tentar entender a sua. Eu queria ser aguda, fria, dizer não com precisão. Nem ela que era louca, ficava insistindo, enquanto eu procuro as migalhas dos pães validos que me dão. Olho para a borboleta da tela do celular, vejo a hora, duas, três da madrugada e nada de você ligar. Será que não sente a mínima saudade? Como alguém pode ser resistente assim em termos de amor? Eu devo ter um desvio, um amor-próprio mínimo, nunca deveria ter desistido da análise, também na época eu ainda não sofria. As pessoas parecem que não tem responsabilidade sobre as outras, atiram-nas na parede, beijam e somem. Ela era visivelmente arrogante, de uma arrogância burra, mas nem beijava direito, nem esperava as coisas acontecerem, uma pressa de adolescente, eu tive que dizer pare, tive que ensiná-la a beijar, depois fui correndo com ela, e acabou como tudo começou. Rápido. Mas admiro como ela me olhou, quando eu nem sequer notava quem estava no lugar, me congelou com mil raios em seus olhos, uma metralhadora de cores noturnas. Eu andava meio assim, querendo achar alguém que fosse como eu, que gostasse de folk, rock e jazz. Que risse, e tivesse bom humor, que bebesse e achasse o máximo ser louco. Mas ela era louca de verdade. E eu mais louca acreditava na culpa que ela colocava sempre em suas fragilidades. Era uma tentativa de esquecer as minhas próprias fragilidades, e nisso até que me fez bem.