segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Viver a vida


Enquanto não curo meu vício procuro os teus braços para curar meu tédio, e curo. Teus dedos me fazem ter ansiedade, eu domo os meus pensamentos aos goles de cerveja e procuro pensar em ti aos tragos de cigarro, a noite passa, a madrugada é doce, o cheiro é calmo, mas de novo não me acalmo, volto para casa com a tarde e no crepúsculo escuto as músicas que embalam o meu não-querer. Quando não consigo parar de pensar eu perco o ônibus e volto para casa mais tarde com remorso de não ter dado as moedas para o mendigo que conta as feridas no corpo para que tenhamos pena, eu tenho, mas não dou nenhuma moeda, viro o rosto para não ver o que é feio e não me sinto culpada de nada de mal que acontece no mundo, mas será que não sou? Quando paro e penso minha consciência pesa e me sinto ruim, o mundo me faz ruim, minhas ações me fazem ruim, e me sinto ruim por ser parte de tudo. Enquanto eu falo de amor, enquanto eu falo de mim, tudo está se destruindo e, no entanto agora eu me sinto a pessoa mais importante do planeta, a mais vitimada, a que não erra e que nunca errará, a que vive a vida tentando imitar um filme francês desses com jovens que aproveitam a vida, rebeldes e sem culpa, e confusos, confusos de viver. Viver confunde, viver não me faz aprender, não aprendo vivendo, mas também não aprendo se não vivo, só faço as mesmas coisas e erro de novo porque não aprendo com a vida e acredito no erro, e quero errar novamente humanamente. Todos os dias eu quero que as possibilidades de errar voltem para eu me questionar o que é certo ou errado? Para dizer que posso errar e acertar dentro do que penso ser certo ou errado e que em muitas vezes é diferente do que outras pessoas pensam, e de repente alguém me diz que amar dessa forma é sujo e escuto passivamente e conscientemente me pergunto se deveria ter ouvido e se deveria ter dito que amo e que gostaria de dizer que continuarei a amar seja quem for que me atraia por algum motivo. Gosto das pessoas e ao mesmo tempo as odeio e me odeio também por ser também pessoa e sendo pessoa ter o vicio eterno de machucar procurando não machucar, não acho que exista alguém no mundo que não pense no outro mesmo que tarde, que não pese a consciência por ter machucado, às vezes minha cabeça dói por tantos defeitos que vejo no espelho, e quero enfiá-la na terra para não ouvir o que tenho que escutar às vezes. Mas mesmo assim a felicidade vem e me embriago, esqueço o mundo, e esqueço do lado de mim que é chato, burro e mesquinho, e dentro do que penso que é felicidade entre goles, beijos e sorrisos, eu lembro de uma frase que vi num filme recentemente “ a felicidade não é engraçada”.