segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

No mesmo lugar

Não sei mais fazer poesias
Acho que nunca soube.
Poesias são mais que rabiscos sentimentais.
Depois que te conheci tudo virou isto:
Uma vontade doida de expressar o que sinto.
Depois que conheci o amor...
Uma vontade doida de enfeitar a vida.
Do tédio já não quero mais falar,
E do teu sorriso já não posso mais dizer,
Me proibi.
Depois que conheci o desejo...
Uma vontade doida de se iludir.
Depois que conheci o medo...
Apenas tive medo.
Antes de começar a escrever
Eu disse que não iria falar de você.
Já bastam os pensamentos,
E o mundo todo dizendo que amar é sofrer.
Depois de tantas poesias de amor...
Eu quis inovar
E acabei aqui
No mesmo lugar.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Par perfeito

Eu sei que por trás desses óculos de Clark Kent existe um coração
E ele é parecido com o meu.
Pulsa.
Pulsa como bate-estaca de boate.
E é doce
Doce como leite com Nescau,
Igual ao que você fez para mim.
Seus conselhos tipo auto-ajuda já me serviram muito,
Risadas e puxadas de orelha também.
A gente se faz bem.
No fundo somos iguais,
Eu versão feminina de você.
Sem Harry Portes e outros Best-sellers é claro!
Mas o que seria de você se eu concordasse com todos os seus clichês?
E o que seria de mim se você aceitasse todas as minhas teorias confusas?
E o que seria de nós sem madrugadas chuvosas no centro da cidade?
Esses conselhos são fundamentais...
Mesmo que nem sempre eu os siga.
E mesmo que todos os amores do mundo nos façam chorar,
Caminharemos juntos
Sempre.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Insônia, desejos e poesias.

Agora vou dormir e esquecer do que está guardado.
As madrugadas têm cores belas que só percebemos quando estamos acordados,
Mas há na insônia algo de incompreensível,
Não dormimos porque não paramos de pensar
Ou porque não pensamos em dormir?
Escrevi minhas poesias sob a luz laranja que entrava da janela
E dei a minha insônia uma nova função.
Enquanto o desejo perseguia o meu sono,
E abria os olhos da minha inconsciência,
Eu furei os olhos do passado com uma caneta esferográfica,
E destilei sangue com cor de tinta
Para sujar os meus papéis.

Quantas vezes amor?


Você não quer fazer poesias de amor?
Um poeta me disse que todas as poesias são poesias de amor,
Mesmo que não falem de amor.
Porque o amor entra em todas as poesias,
Consumindo os poetas que não querem falar de amor.
O amor come os restos que deixamos guardados dentro de nós,
O amor derruba as máscaras que pomos quando queremos ser felizes,
O amor arruma as malas e vai embora quando se cansa,
Dar lugar ao vazio,
Que enche.
Precisamos do amor.
Já dizia um outro poeta que tudo é amor,
Já dizia alguém que amar é tudo,
E se em tudo há amor,
Que façamos poesias de amor...

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Fundamental é ler!


Que contos e poesias não tenham
O mesmo tédio que há na vida.
Pois a vida esta que morna ou quente,
Fria ou gelada,
Entre goles, tragos e beijos,
Não é suficiente para nos tornar felizes.
Pois quando estou a cansar de viver tal vida tão insuficiente,
Quero o colo quente de um livro.
Um livro que me abrace como nenhum amante me abraçou,
Ponha-me terna e feliz,
Ébria e apaixonada sobre suas páginas,
E me faça suspirar, sonhar e viver a vida que não existe,
Mas que é suficiente para me distrair,
Desta vida que de insatisfação vive a cada hora morta que não é bela como um livro.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

“Sempre que desejo acabo pertencendo”


Fitinhas vermelhas amarradas no dedo para não esquecer o que se quer lembrar. Para quê escrever com palavras o que não se quer dizer com palavras? As palavras agora já não servem, tanto que as esqueci, esqueci o meu caderninho na gaveta e nem faço mais questão de anotar os dias inesquecíveis que passaram, que importa? Que se vão todos com o tempo, as pessoas e os discos voadores, perdidos no espaço e na lembrança. Porque tudo o que eu mais quero esquecer é o que realmente quero e não posso ter, e que por isso não esqueço. Noites mal dormidas se questionando se devo ou não pensar no que não tenho e no que tenho, se devo fugir e viver do que existe, as ilusões nunca serviram para nada mas são a melhor parte da realidade. Quero todos os sorvetes do mundo para tomar com a melhor companhia que não posso ter ou todos os vinhos do mundo para me embriagar porque não posso ter tudo que desejo. Ter, fugir, conseguir, esquecer, machucar, amar, sentir, cuspir, gozar, mundo cruel. O ano se passa com os melhores dias que tive, os melhores dias que não foram bons. Viver é conseguir passaportes para uma viagem que você sabe que não vai dá certo, mas que você quer ir e vai porque você tem esperança que dê certo. Lendo as melhores tragédias e vivendo a maior comédia que é a vida, se eu mandasse no seu coração eu diria: não me ame mesmo. Porque é bom não amar ninguém de vez em quando e ter o coração batendo a cada esquina por engano. Fazer versos para serem lidos e esquecidos, a verdade é que todos são para mim, para eu lembrar que amei. Porque amar é diferente, quem nunca amou deseja amar, porque amar é cool, está nos livros, nos discos, no cinema, no supermercado, tem coisa mais na moda que amar? Comprar aquele presentinho no dia dos namorados e dizer “é para o meu namorado!” Quer saber, já estou cansada de tanta responsabilidade, já estou cansada de Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, novela das oito e etc. Porque não falamos de sexo? Não me prometa nada, esqueça as promessas, porque eu gosto mesmo do imprevisto, é isto que me atrai, o que não tenho certeza, pois é o que se parece mais comigo. Esqueça o que eu quis dizer naquela noite porque são só palavras e as palavras não dizem nada, tenha olhos, mãos e boca para sentir, esqueço de querer dizer, esqueço de me preocupar, esqueço de mim, de você e do mundo, esqueça você também, esqueça de ter medo, esqueça de sofrer e de machucar, machuque, viva, sinta, o que sinto, o que você sente, sinta, experimente, tente, morra, tudo de novo e de novo, esqueço de chorar pois já não consigo mais sofrer, a vida me pede para viver e viver tudo de novo. O que não foi se deixa guardado, e o que ainda pode ser se deixa a vista para de vez em quando usar. Eu poderia escrever um texto triste, porque seus olhos e a presença da realidade me deixou triste por um momento, e essa tristeza ainda está guardada junto com os cacos de palavras e beijos que não foram dados, esperando um novo dia de tédio para dá as caras, mas algo me diz que todos os dias felizes e tristes que vivi foram só copias de mais dias tristes e felizes que ainda estão por vir. Então não posso apenas estar chorando a meia luz de um quarto com medo da tempestade não passar se no fundo eu sei que ela vai passar porque depois da tempestade sempre vem a bonança. É a única certeza que tenho, que tudo passa, mesmo que seja com a morte e a morte é a única certeza que não é certa, pois nunca saberemos o que vai acontecer de nós depois dela. Esqueçamos tudo então, aos goles de uma bebida qualquer ou com alguma droga qualquer ou ao som de uma música qualquer, ou beijando uma boca qualquer, esqueçamos. Para vivermos tudo e tudo de novo, vivamos o amor, o ódio, a dor, a ilusão, a saudade e a falta, a alegria, vivamos, eis para isso que aqui estamos, viver. Mas se queríamos ao menos fazer uma poesia era porque a poesia é a forma mais simples de expressar o que não conseguimos falar, o que não existe na linguagem das palavras, o que só se pode sentir, a poesia consegue guardar nessa nossa linguagem errada e incompreensível o que não se ler, o que está implícito, é a forma mais bela ao menos. E junto com o que tivemos a oportunidade de ser, guarde as palavras que eu nunca disse e os dias que foram bons e tente fazer uma poesia, para colorir a vida que continuará sendo cinza, a olho nu.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Amar é sofrer?


O escuro cotidiano de sempre, nas poltronas os casais sentam, sim, todos casais, ou duplas, ou trios, mas todos acompanhados. Eu estava só. E torcia para que ninguém sentasse a minha frente, queria ver a tela, grande e luminosa, como se tivesse sido feita somente para mim, e como se tivesse somente eu ali. Enquanto não começava o filme eu me lembrei da última vez que tinha ido ao cinema, estava acompanhada, e me questionei também o que as outras pessoas deveriam achar de eu estar ali só, não tinha nenhum problema, mas imaginei o que se passava na cabeça das pessoas que estavam acompanhadas. Um casal a minha frente se beijava, achei feio o jeito que ela beijava o namorado e achei linda a cena em que os atores faziam amor. O filme falava de amor. A cada frase o amor era questionado, “paixão significa sofrimento”, “amor recíproco infeliz”, a cada frase eu repetia mentalmente como que para me lembrar depois e repetir para alguém, ou simplesmente para refletir cada significado, amar significa sofrer? Os atores se questionavam em meio a felicidade que viviam e relembravam os grandes casais que sofreram por amor na literatura ocidental, em cada cena eles expunham que amar nem sempre era sofrimento, e a cada nova cena eles mostravam que as grandes estórias de amor só eram grandes estórias de amor porque eram paixões impossíveis e sofredoras, eles mesmos começavam a sofrer, porque o tédio da tranqüilidade e da reciprocidade amorosa logo vinha a dominar a tela, e nenhum filme é interessante quando o casal protagonista simplesmente se ama em frente aos nossos olhos, é preciso o sofrimento, como o próprio filme mostra. Tristão e Isolda, Romeu e Julieta, Bentinho e Capitu, ou simplesmente Donatella e Zé Bob, ou mais que simplesmente você mero leitor e alguém que você ama, mas que não lhe queira por algum simples motivo. Amar e ser amado, qual a graça nisso? Seria simplesmente isso que eu e qualquer pessoa que estiver apaixonada gostaria nesse momento, e o próprio filme termina com o final feliz, mas é que parece que só há amor, só sentimos amor quando sofremos. “Nunca mais alegrias sem dor”. Se case agora com o amor da sua vida porque você se sente feliz com ele, mas saiba que nem sempre o amor vai significar paz, pois quando este mesmo parecer tranqüilo demais é porque algo já não anda mais batendo forte. O filme terminou com um final feliz, os protagonistas ficaram juntos e seguiram felizes, mas a mocinha só voltou para o mocinho depois de uma desilusão e o mocinho só foi aceito pela mocinha depois de errar. Enfim, não foram tranqüilos até o fim, passaram pelo velho sofrimento tão abordado pelas estórias românticas. Por mais que amemos e sejamos felizes, o sofrimento vai sempre fazer parte desta felicidade, seja quando você ame e seja amado ou quando você ame a pessoa errada. Não é preciso que a sua estória termine em morte ou em separação, não é preciso que você morra ou se mate por amor, o simples fato de amar já é motivo para se perguntar: amar é sofrer?

O jogador


Já foi um longo tempo em que me esqueci de esquecer, só para curar o tédio, só para manter o coração ocupado. Os jogadores blefam e o meu jogo nunca dá certo, perco as apostas e tento roubar, mas sempre sou pego, que jogo é esse em que só faço perder? Há jogadores que sempre apostam e ganham, outros sempre tem uma carta na manga. Eu desisto, enquanto jogava perdi de estar dançando no baile, ou tomando um drink no bar, perdi meu dinheiro todo e agora estou sem nenhum tostão, nenhum tostão para continuar o jogo. Esse jogo que quando não é ganho pelo mesmo jogador acaba em tiros porque alguém tentou esconder as cartas debaixo da mesa. Coloquei as cartas na mesa e me fixei no olhar do meu adversário, nem parecia que ele estava blefando, culpa da minha inexperiência, acreditei e perdi. Agora longe da mesa de apostas eu me pergunto se não tem um jogo mais fácil, um jogo menos perigoso, ou que não tenha apostas, pois este jogo já foi longe demais, insisti e acabei me viciando, virei chacota para os meus adversários, e minha mulher me deixou com o futuro filho que carregava na barriga. Acabei só em meio aos jogadores achando que era um também, e logo eles me mostraram que eu não sabia jogar, agora tento limpar as calçadas dos bares para ver se arranjo um trocado, e se o meu vicio não persistir possa ser que eu junte dinheiro e fuja, mas se ele persistir, vou acabar de novo na mesma mesa com os mesmos jogadores sujos a desfilar seus anéis de ouro, seus charutos fétidos e seus sorrisos provocadores de vencedor. Eu estou só junto com o cachorro do mendigo esperando que o tempo me dê mais tempo, mais calma e mais sabedoria, posso jogar mais uma vez e perder, então para que continuar no jogo? Mas o vicio é forte, e os jogadores sempre rondam a minha casa a procura de mais um jogador, e de preferência um tão fraco quanto eu, um que sempre erre nas apostas. Enquanto isso eu conto as notas que restam e penso no meu futuro, quanto ao passado já passei quase seis meses jogando, agora posso virar a mesa e procurar algo mais interessante para passar o tempo, algo que não me consuma como este jogo, algo que não precise de jogadores e blefes.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Saudade: palavra sem significado.


Sinto falta dos lábios
Densos
Principalmente o inferior.
Sinto falta dos olhos
Castanhos cor de escudo
Impenetráveis.
Sinto falta das mãos
Leves
Que tocaram o que nem todos conseguem tocar.
Sinto falta do tempo
O maldito tempo que parava.
Sinto falta da pele
A cor.
Do cheiro não sinto falta
Está guardado
Sinto falta de senti-lo.
Infalível.
Sinto falta de ter e temer
De te velar e não conseguir dormir.
Sinto falta do amor que nunca tivesses.
Sinto falta do filme
Do sorvete napolitano
Do beijo nos batentinhos.
Sinto falta de poder
Estar
Perto.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Pedido


Antes de todas as coisas passarem

O tempo da o ar da graça

Sopra as poeiras e arranca as árvores

Cabe a nos percebemos no que estamos errados,

Mas o perceber requer mais tempo,

Que de novo vem e leva consigo o que sobra.

Antes de todas as coisas passarem

Eu peço que o tempo arraste de mim as más escolhas,

E deixe as boas para que eu não perca mais tempo.

Ó tempo senhor de tudo

Sopre leve e derreta meu escudo

Não faça o tempo parar quando eu estiver amando,

Não faça o tempo voar quando eu estiver feliz.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Monotonia poética


Talvez saia uma poesia
Dessas com declaração de amor que nunca dão certo.
Talvez saia um conto
Falando de olhos, tardes românticas, e encontros perfeitos que não passam de encontros.
No final de tudo, tudo que acontece serve para inspirar.
E se não acontece nada o tédio também inspira.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Imagin(ANDO)


O vento passa pelas folhas
Meu pensamento está longe e como o vento passa.
Podemos fugir e pegar aquele carro no meio da estrada?
Será que temos sempre outras alternativas?
Ela disse que ia vender seus filhos
Eu me imaginei tendo um.
Eu imaginei também uma grande noite,
Roda gigante, casas coloridas, frio, abraço.
Imaginei final de tarde,
Sorvete com duas bolas,
E correr pelo parque feito criança.
Imaginei que desse certo.
Imaginei paz,
Eu a tive
Mas não era a que eu queria.
Como dói a verdade,
Como dói entender,
Eu imaginei ser como a mulher que quer vender os filhos,
Como o cara que corre veloz na pista,
Como o rapaz que caça insetos,
Eu me imaginei sem medo,
Eu me imaginei sendo fria,
Eu me imaginei sendo outra.
Só imaginei.

sábado, 6 de dezembro de 2008

"As palavras deviam exprimir exatamente aquilo que queremos dizer"



Mesmo que a recordação do cheiro passe eu ainda devo levá-lo para algum lugar por um tempo, para o abismo do meu coração, no passado trancado a portas que não abrem mais, ou para as caixinhas coloridas cheias de lembranças onde posso abrir a qualquer hora. Eu aprendi que de tudo sei sobre o nada, e que se volto atrás sou a pessoa mais estúpida do mundo. Estupidez é o que eu digo, ingenuidade é o que falam. E se falam mentem, e se escrevem poemas desabafam, nunca use um poema para mentir, não dá certo. Seria também a traição mais cruel ao sentimento que não sente. Poema é coisa séria, escrever é coisa séria, isso eu aprendi, aprendi tentando escrever, só não aprendi a escrever. Acredito no que a Clarice Lispector disse sobre escrever, que escreve para encontrar as respostas, um auto-conhecimento, é bem claro isso quando escrevemos, tentamos exprimir algo além da palavra, algo que não poderíamos dizer, e na maioria das vezes erramos, as palavras traem, assim como na fala também se erra na escrita, não dizemos aquilo que queremos e quanto mais nos conhecemos mais nos perdemos nesse conhecer. Me escondo e me acho quando escrevo, me mostro e me escondo. Eis porque escrever se torna um vicio, queremos achar mil coisas dentro de nós, mil pedacinhos falhos e acertados, mil coisas doces e ásperas, encontrar a beleza que não existe na nossa superfície. E queremos nos mostrar, porque somos os bichos mais vaidosos, mas às vezes mostramos tanta coisa feia e nos escondemos como bichinhos medrosos. O mais medroso é o escritor, ele guarda tudo que sente para seus textos, decora tudo para falar e não fala, guarda tudo para depois vomitar no papel, bichinho egoísta também e vaidoso, até o mais tímido adora mostrar o que escreveu. Eu gostaria de levar agora o cheiro que senti para esse texto, faz tempo que tento, mas não consigo, por quê? Eu queria guardá-lo, tirá-lo de mim, já esfreguei mil vezes, queria tomar banho de ácido, porque sabonetes e água não bastam. Mas o cheiro se impregnou, tomou conta e continuo a senti-lo mesmo que tapando o nariz, algo fora do corpo, psicológico, que se mistura ao físico para dar vida ao que só existe na imaginação. E que fique na imaginação já que o real é o que existe, não quero ilusões para curar o tédio, não quero poemas, nem declarações, quero verdades, beijos e abraços e outras coisas que se possam tocar. Mas agora acho que já falei demais como sempre, tantas palavras para perceber que não queria dizer nada disso.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Me ponho sobre seus cabelos e penso:

Teus cabelos encaracolados não sabem o que fazem
Me ponho sobre eles e penso: porque o mundo é tão cruel?
Não somos desse mundo, somos de outro mais bonito
Com sorrisos e cócegas que não cessam
Com narizes tortos indicando a gentileza
E sorvetes de amendoim.
Me ponho sobre seus cabelos e penso: de onde vem tanta calma?
Se vivemos com pura alma e somos burros,
Se não vivemos e não sentimos como querem,
Se nos importamos,
Se somos nós e não cansamos de ser.
Se sou eu e você em uma praça a nos perguntar o que devemos amar,
Mais uma vez me ponho sobre seus cabelos e penso: sofro.
E por sofrer às vezes sou feliz.
Não há mal nisso.
Me ponho sobre seus cabelos e penso: que poesia deveria decorar para você?
Se sabes do Quintana, do Bandeira e do Gullar,
Em qual lugar?
Numa praça, numa estação, ou num boteco,
Em que teto devo estar?
Me ponho sobre seus cabelos e penso: como pode me compreender?
Como pode gostar dos meus olhos se eles nada dizem?
Me ponho sobre seus cabelos e penso: é aqui que deveria estar.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Entre príncipes e princesas


Mais uma noite se passa com a mesma calma que não gosto, enquanto buscamos a segurança somos atraídos pelo perigo, ele que move, ele que envolve, com suas mãos de fada e seus olhos de doçura. Quente entre pernas e quartos a meia luz. Porque não querer o óbvio, o que a gente sabe que vai dá certo, a certeza plena não envolve, não satisfaz. Enquanto se fecham as portas das oportunidades se abrem as portas do medo, e não adianta ter jardins floridos para sustentar a ilusão, um dia a chuva vem e arrasta as rosas com as raízes mais firmes do seu jardim. A realidade é o abrir de olhos em meio ao sonho mais feliz, é o final do abismo em que se caiu, o chão, é o pai bravo descobrindo seu segredo, o último adeus a quem se ama. Eu poderia acordar agora, tomar o meu banho, vestir a minha roupa e continuar a minha rotina com o que tenho e o que posso ter, apenas. Mas precisamos sonhar, só para ficarmos insatisfeitos, a eterna insatisfação humana não se satisfaz. Mesmo que eu tenha sonhado o sonho inteiramente, sem nenhuma interrupção, mesmo que alguém tenha me contado uma linda estória antes de adormecer, dessas em que o príncipe salva a donzela em perigo, ou a que o bem vence o mal no final, a realidade continua a ser a vilã que rouba a cena, e fico de olhos abertos a noite inteira, vendo o sonho passar junto com a noite, e o real se aproximar junto com a manhã, pulo da cama da fantasia e volto para a cama da realidade e dela vejo o corpo do sonho estendido na cama da fantasia me dizendo para voltar. E como a mocinha indefesa que insisto em não ser volto, mas nesse conto de fadas o final não é previsível, mesmo que as pistas levem para um final infeliz, na minha estória não existe o príncipe que venha me salvar, me cansei do príncipe e me sinto culpada por isso, me cansei de ser princesa e por isto não sinto culpa. E busco enfim o caminho que não tem tijolos de ouro, o mais difícil, o que uma princesa não escolhe sozinha, pois no seu castelo há criados que lhe servem. No meu castelo não há mais criados, nem príncipes, nem reis despóticos, nem rainhas loucas, nem mesmo eu sou uma princesa, e mesmo que eu ainda acredite em conto de fadas eu sei que no final da estória não vai ser um príncipe que vai me salvar.

Maldito tempo e seus círculos


As luzes da cidade brilharam sob o prédio e eu olhando pela janela me perguntei em que mundo estava? Minha cabeça estava cheia, meu coração estava aflito, de novo olhar nos olhos das pessoas e ver a mesma expressão previsível, de novo olhar para dentro de si e me perguntar, o que estou fazendo? Eu queria não dormir hoje, mas meus olhos estão cansados, mesmo assim meus sonhos vão refletir os desejos que tenho e as vontades que não vão ser atendidas. Eu só queria encostar minha cabeça em um ombro, apertar meu corpo bem forte contra outro ou deslizar minhas mãos em mãos mais fortes que as minhas só que dessa vez mais seguras. Encontrar um coração mais seguro que o meu, poder ouvir eu te amo sem se sentir culpada ou confusa, dizer eu te amo sem ter medo da resposta. Mas o tempo não passa, o tempo faz círculos e volta para os mesmos lugares cheios de ilusões me deixando tonta de sensações que não passam. A felicidade é tão cruel que volta, a felicidade é tão cruel que engana, a felicidade é tão cruel que quando chega escolhe os olhos mais doces para se esconder, as mãos mais sensíveis para te tocar, a boca mais gostosa para dar gosto, o cheiro mais denso para te embriagar, e o corpo mais forte para te prender, e prende quando você já está lá e não há mais volta porque você não quer ir embora. A felicidade escolhe os sentimentos mais nobres e combina com eles o tempo certo de chegar e ir, e vai, deixando conosco, a rotina, o tédio, o medo e a ilusão. O cheiro doce que sinto agora não é o mesmo daquela noite, sorte que me lavei para não levar comigo os sonhos que guardei a madrugada inteira, com medo de dormir e acordar com a realidade, quis olhar seu corpo e fingir que era real, fingir que era possível, que era simples, como uma música qualquer, quis olhar seu corpo a noite inteira e fazer o tempo parar, para não ter que acordar e enfrentar a realidade com outros olhos, olhos tão doces quanto os seus, olhos mais sinceros que os meus, ouvir palavras com significados tão cruéis, mas mais sinceras que as minhas, queria ser forte e mentir, queria não querer, queria não entender, queria não ser eu agora. Não me pergunte se estou triste, não estou, só estou procurando olhar para dentro de mim e ver que não sou a única pessoa que existe no mundo. Eu sei que gosto disso, eu sei que prefiro a ilusão que o tédio, mas agora acho que não preciso mais ocupar a minha vida com ilusões, nem com banalidades, nem com pessoas e sentimentos que não dão certo, não preciso mentir, nem enganar, o tédio agora pode ser mais seguro e pode me fazer entender o que ainda não aprendi, não quero sair hoje e ocupar a minha cabeça, posso ler um bom livro, escrever ou simplesmente dormir, posso ser mais doce e menos impulsiva, posso ser eu sem precisar de outra pessoa. E não me peça para voltar, se não tiver lugar na sua casa, não me peça para pular senão puder me segurar, não me peça para te abraçar forte enquanto você dorme se na sua cama só tem lugar para você, e não me peça para ir embora se desejar que eu fique. E enquanto as luzes ainda estão acesas ou não param de piscar, eu vejo que não existe alguém que se possa mais amar do que eu mesma agora, e isso não é egoísmo, pois se não é possível compreender quem se ama, basta que eu me compreenda e perceba que não vale à pena amar sozinha.