quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Amar é sofrer?


O escuro cotidiano de sempre, nas poltronas os casais sentam, sim, todos casais, ou duplas, ou trios, mas todos acompanhados. Eu estava só. E torcia para que ninguém sentasse a minha frente, queria ver a tela, grande e luminosa, como se tivesse sido feita somente para mim, e como se tivesse somente eu ali. Enquanto não começava o filme eu me lembrei da última vez que tinha ido ao cinema, estava acompanhada, e me questionei também o que as outras pessoas deveriam achar de eu estar ali só, não tinha nenhum problema, mas imaginei o que se passava na cabeça das pessoas que estavam acompanhadas. Um casal a minha frente se beijava, achei feio o jeito que ela beijava o namorado e achei linda a cena em que os atores faziam amor. O filme falava de amor. A cada frase o amor era questionado, “paixão significa sofrimento”, “amor recíproco infeliz”, a cada frase eu repetia mentalmente como que para me lembrar depois e repetir para alguém, ou simplesmente para refletir cada significado, amar significa sofrer? Os atores se questionavam em meio a felicidade que viviam e relembravam os grandes casais que sofreram por amor na literatura ocidental, em cada cena eles expunham que amar nem sempre era sofrimento, e a cada nova cena eles mostravam que as grandes estórias de amor só eram grandes estórias de amor porque eram paixões impossíveis e sofredoras, eles mesmos começavam a sofrer, porque o tédio da tranqüilidade e da reciprocidade amorosa logo vinha a dominar a tela, e nenhum filme é interessante quando o casal protagonista simplesmente se ama em frente aos nossos olhos, é preciso o sofrimento, como o próprio filme mostra. Tristão e Isolda, Romeu e Julieta, Bentinho e Capitu, ou simplesmente Donatella e Zé Bob, ou mais que simplesmente você mero leitor e alguém que você ama, mas que não lhe queira por algum simples motivo. Amar e ser amado, qual a graça nisso? Seria simplesmente isso que eu e qualquer pessoa que estiver apaixonada gostaria nesse momento, e o próprio filme termina com o final feliz, mas é que parece que só há amor, só sentimos amor quando sofremos. “Nunca mais alegrias sem dor”. Se case agora com o amor da sua vida porque você se sente feliz com ele, mas saiba que nem sempre o amor vai significar paz, pois quando este mesmo parecer tranqüilo demais é porque algo já não anda mais batendo forte. O filme terminou com um final feliz, os protagonistas ficaram juntos e seguiram felizes, mas a mocinha só voltou para o mocinho depois de uma desilusão e o mocinho só foi aceito pela mocinha depois de errar. Enfim, não foram tranqüilos até o fim, passaram pelo velho sofrimento tão abordado pelas estórias românticas. Por mais que amemos e sejamos felizes, o sofrimento vai sempre fazer parte desta felicidade, seja quando você ame e seja amado ou quando você ame a pessoa errada. Não é preciso que a sua estória termine em morte ou em separação, não é preciso que você morra ou se mate por amor, o simples fato de amar já é motivo para se perguntar: amar é sofrer?

Um comentário:

Thereza Cristina Santos disse...

Na maioria das vezes amar implica sofrer mesmo, mas isso não passa de uma construção social que podemos modificar. Amar, além de um ato de doação precisa ser também um bem-estar...

=)