terça-feira, 28 de abril de 2009

Filtro dos sonhos


De quê são feitos os sonhos?
Têm tons coloridos?
Gosto de chocolate?
E um cheiro de infância?
Meus sonhos ainda são tão pesados
Carregam desejos não realizados.
Fazia tempo que não sonhava
Você me deu um sonho
Foi rápido e leve
Nem precisou de utopias
Nem precisou de beijo
E chuva
Foi apenas um momento
Um flash
Um insight.
Quando fechasse os olhos
Eu vi o mundo
Estava calmo
E não precisava fugir
Nem correr
Fiquei parada
E vi nuvens azuis
Estrelas
E arco-íris.
Filtrasse meus sonhos
só para eu perceber
que eles podiam ser leves.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Caixinha


Se eu pudesse te colocar numa caixinha dessas
Em que guardamos lembranças
Te guardaria como uma flor
Despetalada e murcha
Como uma prova de que o amor morreu.
Mais ainda vives a pulsar suas cores
Mesmo assim se eu pudesse
Te guardaria
Como um livro que li e gostei
Te guardaria
Como um brinquedo de uma infância passada
Como uma foto de um grande amor que foi embora.
Te deixaria ali na caixinha

E somente retornaria a ver-te quando outro amor me dissesse não
Para recordar
Para lembrar do beijo e do encontro perdido no tempo
Que não volta mais,
Mas não és só lembrança
Eis pensamento vivo latejando em mim
Algo que nem o tempo com seu temperamento rude
Conseguiu te guardar.
Se ele fizesse este favor...
Não precisaria mais lembrar-te
Como um vicio
Ou obsessão do meu pensamento
Abriria a caixinha apenas quando eu quisesse
Apenas
para não esquecer.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Relicário


Só guardo de ti a parte mais bonita
Aquela que me toca
É assim quando gosto de alguém
E não és especial
De cada pessoa guardo o que é mais bonito
Pois não quero poluir o coração
Com a porção feia que me dão.
Que me chamem ingênua
Mas a doçura vale mais que o amargo
De lembranças sujas.
Assim ninguém será ruim
E todos podem valer
Um pouco.
Um abraço
Um sorriso
Um beijo
Uma palavra
Qualquer coisa que inspire uma poesia
Uma bela e ingênua poesia.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Vontades


Vi aquela casinha e tive vontade de entrar
Não entrei
Li Quintana a tarde com ares ensolarados
Tive vontade de escrever
Não escrevi
Senti um cheiro de laranja vindo da casa da vizinha
Tive vontade de provar
Não provei
Ouvi música com melodias contagiantes e sons afins
Tive vontade de cantar
Não cantei
Vi tua boca perto da minha provocando a libido
Tive vontade de beijar
Não beijei.
Tantas vontades...
Tudo com querer
Querer tem doses exageradas de desejo
E se me embriago com essa bebida
Me ponho comovido como o diabo
Inverto a razão
E dou ares de loucura a ela
Tudo pelo querer
Que nunca é santo.
Querer escorre
Mas depois evapora
Feito água
Corre e lava quando é atendido
Mas quando não existe concreto
Apenas fumaça e indícios
A vontade passa
E o vento sopra
Levando os indecisos.
E se tua vontade é esta que basta apenas um momento
Dance com ela a música
Beije e faça sentido.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Estação vaga

Em qualquer sorriso há uma estação vaga
sem nenhuma pessoa para pegar o trem
qualquer sorriso desse que vejo
se mistura com o meu
tímido e burro
dá gargalhadas para que ouvidos escutem
e fecha os olhos para não ver
o mundo.
E eu só sorri...
para passar o tempo
só fiz questão de não existir
de não querer,
fingir.
Quantos sorrisos gastos
e quantas horas gastas pensando em sorrir
quanta vontade de abrir os dentes
e morder
morder cada parte tua
e destruí-las
te destruir.
Te tirar do mundo
e fazer-me existir.
Eu
Me devorasse
com tão poucos sorrisos
e tão poucas palavras de amor
e então o que te faz ser especial?
O que te faz ser ainda
aqui?
Deixa eu pegar o trem que dê para um lugar desconhecido
deixa eu morrer de medo
longe de você.
Posso sorrir?
Posso olhar pela janela
e ver um caminho
longe deste,
a chuva vai bater no vidro
deixa eu abrir a janela
e parar no ponto errado
longe da tua casa
longe da minha
longe do que se diz
que é preciso insistir.
Meu sorriso tem uma estação vaga
alguém pegou o trem e fugiu,
espero o próximo passageiro.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Madrugada

Só sobra a angústia
quando a alegria acaba
talvez por ser mera alegria
dessas compradas
com beijos e cigarros.
Sobrou um pouco de vazio
desse que nunca preencherei
por perder,
vazio
que sempre cai
com a noite.
Cai nos meus braços
depois de me agarrar a tantos,
ninguém se sustenta só
é preciso buscar.
Enquanto a madrugada
se confunde com a minha identidade
faz um traço
que divide a noite do dia
eu penso se o lugar
que estou me cabe ou
se guardo este lugar.
Saio para rua
canto canções
que nunca curam mágoas
nem amores
só curam o tédio
e dão beleza ao que não faz sentido.
Deixo então eu me entender comigo
e ir embora como os pássaros
na madrugada
fugindo da noite
que não foge de mim.