domingo, 13 de março de 2011

O processo

Cortes de navalha, religiões, remédios e alucinógenos. Confusões na minha mente ao tentar entender a sua. Eu queria ser aguda, fria, dizer não com precisão. Nem ela que era louca, ficava insistindo, enquanto eu procuro as migalhas dos pães validos que me dão. Olho para a borboleta da tela do celular, vejo a hora, duas, três da madrugada e nada de você ligar. Será que não sente a mínima saudade? Como alguém pode ser resistente assim em termos de amor? Eu devo ter um desvio, um amor-próprio mínimo, nunca deveria ter desistido da análise, também na época eu ainda não sofria. As pessoas parecem que não tem responsabilidade sobre as outras, atiram-nas na parede, beijam e somem. Ela era visivelmente arrogante, de uma arrogância burra, mas nem beijava direito, nem esperava as coisas acontecerem, uma pressa de adolescente, eu tive que dizer pare, tive que ensiná-la a beijar, depois fui correndo com ela, e acabou como tudo começou. Rápido. Mas admiro como ela me olhou, quando eu nem sequer notava quem estava no lugar, me congelou com mil raios em seus olhos, uma metralhadora de cores noturnas. Eu andava meio assim, querendo achar alguém que fosse como eu, que gostasse de folk, rock e jazz. Que risse, e tivesse bom humor, que bebesse e achasse o máximo ser louco. Mas ela era louca de verdade. E eu mais louca acreditava na culpa que ela colocava sempre em suas fragilidades. Era uma tentativa de esquecer as minhas próprias fragilidades, e nisso até que me fez bem.