quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Nostalgia


Vasculho um poema teu procurando poeira
Poeira do meu passado
Se existiu algo em ti igual a mim,
Nostalgia inútil
Culpa de um presente vazio
Repleto da tua ausência.

Pegaste o primeiro trem
Aquele que foi o meu terceiro
Aquele que na estação eu quis muitas vezes pagar tua passagem
E agora com o tempo foste embora,
Sem precisar do meu adeus no portão de embarque.

Me despedi te dando dois beijos no rosto
E nos meus olhos a vontade de te guardar para sempre
Na minha boca as palavras emudeceram
Já não tinham mais sentido
O meu abraço falou por elas...
E no teu corpo fazendo um laço
Eu quis deixar algo de mim em ti
Algo maior do que eu espero ter deixado
E tirar de ti algo mais forte do que você me deixou
Algo mais forte que senti
Quando estavas presente.

Da dúvida do amor que sentisses
E das perguntas que não tive coragem de fazer
Eu fiz um sorriso
E um coração cheio de melancolia e saudade
Porque o coração não finge
E esta saudade não se esvai com o fim
Nem com a promessa de ser feliz.

Somente um novo amor
Calmo e silencioso
Com os passos sorrateiros
Feito os que o teu deu no meu caminho
Pode essa saudade afastar.

sábado, 1 de agosto de 2009

Trague-me


Fumaça...
Todos os cigarros são contentes, queimam e ardem, sem precisar ter algum complexo motivo, apenas queimam e ardem. Eu me sentiria mais feliz se fosse um cigarro, aceso, feliz e ardente, na boca de qualquer um. Me sentiria mais feliz se tudo fosse um sim continuo, sem perguntas, sem precisar de respostas. Apenas fumaça saindo das bocas, de vez em quando algum desses fumantes me fumaria com gosto e faria desenhos com a fumaça, eu voaria e desapareceria, faria muita gente feliz, por segundos e morreria junto com o filtro jogado no cinzeiro e as cinzas caídas na mesa, sem nenhuma complexidade, sem precisar de teorias, de ideologias, de deuses, amores ou gratidão, apenas alguns reais, cinzeiro e fogo. Sem precisar saber quem sou eu, em que mundo estou, em que roupa me colocaram, em que coração bato, em que maternidade nasci, em que número da identidade me deram, em que universidade estudo, em que emprego devo arrumar, em que marido devo escolher, em que nome vou dar para meu filho, em que cemitério vão colocar meu corpo. Me trague leve, sinta a minha sensação, depois me jogue fora. Não quero saber quem sou. O que sinto tem que ser rápido, para não doer, o que sinto tem que ser breve para não permanecer, o que sinto tem que ser contado para não durar. E assim quero desaparecer como fumaça, lentamente na visão de quem sonhou, e rápido na realidade dos dias. Me bastam complexidades, me basta contar o tempo, não uso relógio, me basta lembrar, não vou a museus, de antigo só as músicas e os filmes, de presente só este dia, e amanhã já outro. Chega de existir, com o passado que já foi, vou exorcizar tragando o final deste cigarro e jogar o filtro fora. Vou pegar uma carona para minha solidão e morrer por hoje, amanhã renasço e volto a ser o que quero e o que não quero, não vou falar, quero emudecer e existir, quando falo morro, quando vivo, vivo. E se é preciso tragar mais forte, vou procurar o cigarro que me agrade e soltar baforadas na cara dos outros, antes que a vida me trague levando meus pulmões.