segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

“Sempre que desejo acabo pertencendo”


Fitinhas vermelhas amarradas no dedo para não esquecer o que se quer lembrar. Para quê escrever com palavras o que não se quer dizer com palavras? As palavras agora já não servem, tanto que as esqueci, esqueci o meu caderninho na gaveta e nem faço mais questão de anotar os dias inesquecíveis que passaram, que importa? Que se vão todos com o tempo, as pessoas e os discos voadores, perdidos no espaço e na lembrança. Porque tudo o que eu mais quero esquecer é o que realmente quero e não posso ter, e que por isso não esqueço. Noites mal dormidas se questionando se devo ou não pensar no que não tenho e no que tenho, se devo fugir e viver do que existe, as ilusões nunca serviram para nada mas são a melhor parte da realidade. Quero todos os sorvetes do mundo para tomar com a melhor companhia que não posso ter ou todos os vinhos do mundo para me embriagar porque não posso ter tudo que desejo. Ter, fugir, conseguir, esquecer, machucar, amar, sentir, cuspir, gozar, mundo cruel. O ano se passa com os melhores dias que tive, os melhores dias que não foram bons. Viver é conseguir passaportes para uma viagem que você sabe que não vai dá certo, mas que você quer ir e vai porque você tem esperança que dê certo. Lendo as melhores tragédias e vivendo a maior comédia que é a vida, se eu mandasse no seu coração eu diria: não me ame mesmo. Porque é bom não amar ninguém de vez em quando e ter o coração batendo a cada esquina por engano. Fazer versos para serem lidos e esquecidos, a verdade é que todos são para mim, para eu lembrar que amei. Porque amar é diferente, quem nunca amou deseja amar, porque amar é cool, está nos livros, nos discos, no cinema, no supermercado, tem coisa mais na moda que amar? Comprar aquele presentinho no dia dos namorados e dizer “é para o meu namorado!” Quer saber, já estou cansada de tanta responsabilidade, já estou cansada de Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, novela das oito e etc. Porque não falamos de sexo? Não me prometa nada, esqueça as promessas, porque eu gosto mesmo do imprevisto, é isto que me atrai, o que não tenho certeza, pois é o que se parece mais comigo. Esqueça o que eu quis dizer naquela noite porque são só palavras e as palavras não dizem nada, tenha olhos, mãos e boca para sentir, esqueço de querer dizer, esqueço de me preocupar, esqueço de mim, de você e do mundo, esqueça você também, esqueça de ter medo, esqueça de sofrer e de machucar, machuque, viva, sinta, o que sinto, o que você sente, sinta, experimente, tente, morra, tudo de novo e de novo, esqueço de chorar pois já não consigo mais sofrer, a vida me pede para viver e viver tudo de novo. O que não foi se deixa guardado, e o que ainda pode ser se deixa a vista para de vez em quando usar. Eu poderia escrever um texto triste, porque seus olhos e a presença da realidade me deixou triste por um momento, e essa tristeza ainda está guardada junto com os cacos de palavras e beijos que não foram dados, esperando um novo dia de tédio para dá as caras, mas algo me diz que todos os dias felizes e tristes que vivi foram só copias de mais dias tristes e felizes que ainda estão por vir. Então não posso apenas estar chorando a meia luz de um quarto com medo da tempestade não passar se no fundo eu sei que ela vai passar porque depois da tempestade sempre vem a bonança. É a única certeza que tenho, que tudo passa, mesmo que seja com a morte e a morte é a única certeza que não é certa, pois nunca saberemos o que vai acontecer de nós depois dela. Esqueçamos tudo então, aos goles de uma bebida qualquer ou com alguma droga qualquer ou ao som de uma música qualquer, ou beijando uma boca qualquer, esqueçamos. Para vivermos tudo e tudo de novo, vivamos o amor, o ódio, a dor, a ilusão, a saudade e a falta, a alegria, vivamos, eis para isso que aqui estamos, viver. Mas se queríamos ao menos fazer uma poesia era porque a poesia é a forma mais simples de expressar o que não conseguimos falar, o que não existe na linguagem das palavras, o que só se pode sentir, a poesia consegue guardar nessa nossa linguagem errada e incompreensível o que não se ler, o que está implícito, é a forma mais bela ao menos. E junto com o que tivemos a oportunidade de ser, guarde as palavras que eu nunca disse e os dias que foram bons e tente fazer uma poesia, para colorir a vida que continuará sendo cinza, a olho nu.

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