segunda-feira, 17 de dezembro de 2007
Amor bom também tem que doer...
Como diz o poeta “que seja infinito enquanto dure”, e foi, assim como o que deve durar somos nós, e sou eu. Quanto ao sentimento, este se perde pelo o erro ou orgulho de alguém ou de todos. Você me deu um tempo muito largo que me deu tempo para pensar que eu ainda estou viva, e que não posso esperar como uma velha senhora que espera uma carta que nunca chega porque foi extraviada. É assim, e tudo de bom se foi assim como tudo de ruim também irá, se perdem as esperanças e se perdem as antigas crenças, tudo isso porque também se aprende que “amor bom também tem que doer”.
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
No quarto
e os temas tristes.
O coração dispara.
Teus dentes me apavoram
prefiro a nós,
mas queres outros,
egoísmo
ciúme
paixão.
O tempo parece curto
tomemos um vinho
talvez nos encontremos.
desejo um cigarro.
Busco-me nos meus pensamentos
tento decifrar os teus,
é teu olhar que não diz tudo
e seu sorriso é irônico
corta.
Mas quero tua língua
desejo que desejes
quero se quiseres
prefiro se preferir,
mas que seja eu
senão me esqueço,
volto a música,
aos pensamentos,
e compro um cigarro.
domingo, 21 de outubro de 2007
O livro da estante
O café quase que derramava na chaleira, vago nos seus pensamentos acordou e correu para desligar o fogo, sentado na poltrona perto da janela sentia o vento bater nos pêlos da sua face e logo percebeu que já estava se acostumando com o lugar, pegou no livro que havia sido deixado na casa e folheou as páginas, nunca havia lido aquele chamado Noites brancas, era a estória de um homem que se apaixona por uma mulher que apenas lhe deu um único beijo e que partira, mas mesmo assim ele se sente feliz, por ter um único momento de felicidade. Apropriado, pensava.
Tinha fugido, fugido não de uma cidade feia e suja, nem de um trabalho maçante, até gostava, tinha fugido de um amor não-correspondido, ela o havia deixado, ela descobrira que não o amava mais, e ele a amava profundamente, sofreu, mas deixou que ela seguisse o seu caminho, o que poderia fazer, de todos os males do mundo a falta de amor parece o pior, e pior para esquecer também pois em todos os lugares que você vai esse estranho sentimento assim chamado de amor está presente, basta ligar a tv ou o rádio, uma revista, um livro, e lá está ele, assim como estava no livro que encontrara. Tinha entrado em depressão e achou melhor se “isolar” por um tempo num lugar distante sem muitas pessoas, para refletir dizia. A noite era escura demais e a falta de luzes artificiais dava lugar ao brilho das estrelas, poderia se contar muitas, percebeu, vagou pela varanda e mais uma vez se notou só, será que essa solidão seria o melhor jeito de esquecê-la? Pensou. Mais uma vez estava pensando nela, nos poucos carinhos que ainda conseguiu ter antes que ela fosse embora, mais uma vez pensava, e pensava que seria ainda muitas noites e muitos dias pensando. Não conseguia desviar dos pensamentos, um certo amigo lhe disse para não fugir e aceitar tudo que acontecesse, era a melhor forma, mas a melhor forma que achou foi fugir, desde criança sempre fugira de todos os seus medos, desde o menino valentão do ginásio até o chefe do trabalho, desde os sermões do pai até o sofrimento da perda de sua mãe. Mas naquele instante percebeu que não adiantava, o amor que sentia era inacabado, ou tentava tê-la mais uma vez ou aceitava conviver com ela mas sem ela. Tinha funcionado, tinha fugido para aquela casa para refletir e em menos de uma noite estando lá já havia refletido tudo, precisava voltar, seria difícil, mas dessa vez era uma questão de honra não fugir, voltar...voltar...voltar.... O café respingou na sua blusa e antes que fosse procurar outra para vestir, fechou a mala e decidiu voltar no mesmo instante, pegou os livros da instante e colocou tudo de volta na caixa retornando tudo ao carro, antes de ir olhou a casa que lhe afeiçoara no pouco instante em que estivera, olhou para tudo e viu o livro que havia sido encontrado quando chegou na casa, foi à estante e o pegou, era o que precisava, talvez fosse a próxima companhia nas noites que viriam solitárias, talvez aprendesse com o personagem a se conformar, a aceitar que o seu amor era inacabado, a aceitar que o dela diferente do dele tinha acabado, a aceitar que não conseguia esquecê-la mas que um dia tudo ia passar e o que ia ficar era lembrança de um momento de felicidade, assim como o personagem do livro.
sábado, 13 de outubro de 2007
Pretensão
nu, explicito
barba, ombros, cabelo.
Te quero homem
romântico
tímido e extrovertido
piegas e verdadeiro.
Te quero usar
te guardar
menino, homem, animal.
Te quero livre
sem exageros
vaidoso e pretensioso
poético e preguiçoso.
Te quero macho
sexo
cigarros, costas, falo.
Te quero meu
vícios, segredos, decepções.
Te quero sempre.
Com tua face em meu peito
teu coração a transbordar.
Te quero
quando quiser.
domingo, 23 de setembro de 2007
Antes de chegar a idade...
Eu era feliz quando você dizia que me amava naquele parque e tudo passava rápido e devagar pela minha cabeça quando você pronunciava, aquele parque que já foi bonito e que nele antes só a gente existia. As cervejas, o bar, os bancos, as nossas conversas sobre cinema, amores, brigas, amigos, sinuca, poesia, e formas de dizer eu te amo, o café junto com teu cigarro, os olhares, as músicas que você compunha para mim, as poesias que eu escrevia pra você com vergonha de mostrar, nós, e o resto do mundo. Aquelas tardes em que eu tinha que voltar antes do pôr do sol, chegar em casa deitar na cama e sorrir de alegria no puro êxtase de se estar apaixonado, na pura contemplação dos teus olhos escuros, brilhando na luz do refletor, as árvores verdes que se agitavam com o vento, os carros passando velozes, só havia nós dois ali, e eu me sentia feliz, eu escutava as melodias no meu quarto sozinha a noite e me lembrava do dia, eu fazia das canções da Joni as minhas composições, até as letras tristes e as dramáticas eram sobre mim, e com a primeira canção do disco eu me lembrava de você.
Eu era feliz junto dela, minha amiga, minha melhor amiga, nossas conversas durante a aula, nossas conversas sobre a aula, nossas conversas no dia anterior, nossos segredos revelados uma para outra, o desenho que roubei dela e que tenho até hoje, nossas quase brigas. Os filmes que assistíamos junto com meu irmão, das noites que saiamos, das tardes bebendo vinho no meu quarto, dos livros que líamos, dos shows com nossos amigos, me lembro que ela me fez gostar de Tom Zé, e nós descobrimos juntas Belchior. Lembro-me também como nos conhecemos na faculdade e como parecia que nos conhecíamos há muito tempo, e se eu acreditasse em vidas passadas, diríamos que éramos irmãs, minha amiga de juventude, me lembro de que como tinha medo que ela fosse embora.
Eu, eu era feliz, e hoje lembrando de tudo isso, não me sinto triste, nem nostálgica. O meu olhar hoje não é o mesmo olhar juvenil de antes, existem rugas ao seu redor, rugas do tempo, hoje não sei mais por onde anda minha velha amiga, nem sei se ainda vive, o meu amor, meu primeiro, só me restou as cartas e a foto, além das melodias que ainda trago comigo, minhas canções ainda existem, ainda são as mesmas, ainda escuto, ainda canto, mas minha voz não tem mais força, minhas mãos só escrevem agora memórias, meus cabelos não têm mais o mesmo brilho de antes nem a mesma cor, ficou sem cor, não uso mais jeans nem tênis, meus netos riem quando falo com as velhas gírias que usava no meu tempo, tempo em que eu lutava por amor e liberdade no meio do trânsito, parando os carros com as minhas bandeiras e meus amigos. Tempo em que pensava no futuro, mas não vivia o presente para ele, tinha medo do futuro porque não cuidava em me preparar para ele, apenas vivia como todos os jovens, minha mãe falava para nós: estudem, se formem e façam o que quiserem, mas nós queríamos apenas viver o que tinha de bom naquele momento, ler os livros que queríamos, falar o que quiséssemos, amar os amores mal resolvidos, nos divertir e chegar na hora errada. Era feliz aquele tempo, não sou triste mas não sou feliz como antes, e agora vejo que era feliz até nos momentos infelizes, porque eu estava vivendo. Agora, ainda vivo, mas não sei se por muito tempo, cheguei na idade em que a morte lhe avisa que vai chegar de qualquer jeito e não adianta fugir. Estou aqui, fazendo o meu tricô, talvez como toda velhinha da minha idade, balançando na minha cadeira, esperando meus netos chegarem e me abraçarem e me pedirem para contar aquela velha história de quando eu conheci o vovô, e o que me resta, é lembrar, lembrar que um dia, eu fui feliz.
sexta-feira, 7 de setembro de 2007
Pensei nisso tudo e quando enfim cheguei ao nosso ponto de encontro meus olhos pularam em direção à sua imagem, que como sempre era calma e confortante. Desci do ônibus e ultrapassando os transeuntes que nos impedia de nos encontrarmos mais rápido, lhe abracei o mais profundo que podia até que minha alma se aconchegasse a sua, senti seu gosto, olhei nos seus olhos de alegria e me senti em paz. Estávamos juntos de novo. E tudo que se passara, se passara, como as imagens que passavam pelas vidraças do ônibus.
E enquanto passeávamos juntos abraçados sentindo nossa saudade se matar, contando tudo que tentava impedir nossa felicidade, senti que nada poderia nos atrapalhar, nem mesmo o final não visto do filme, nem mesmo minha impaciência, nem mesmo o gosto do choro na minha garganta, nem mesmo as outras pessoas que teimavam em ser infelizes.
domingo, 2 de setembro de 2007
Um gesto
Estava a pensar nos segredos que nos rodeiam, suspirei um pouco e afundei na visão da paisagem que olhava. Como quem devaneia, delira, dorme de olhos abertos, a visão embaça lentamente sob o objeto escolhido, até que os pensamentos tomam forma e imagem, e transformam a paisagem antes real em fantasia, o pensamento concretiza-se a frente. Mas por um vulto ao longe tudo que virou matéria se dissolve mais uma vez, e a realidade torna, estupefata. Os sons, as cores, as pessoas, o mundo. De volta, ao teu lado, os dedos, os teus, os meus, a difícil necessidade de te tocar, o profundo receio que impede. Ultrapassando a barreira entre o ir e não-ir consegui toca-los e confundi se o motivo de tal felicidade súbita era por seu sorriso ou pelo gesto. Como tão pequeno movimento entre duas mãos pode causar tanta felicidade? Como tal gesto consegue dizer mais do que palavras? Simplesmente os dedos passarem ligeiramente uns aos outros, não é preciso que os rostos se olhem, nem que se diga: posso? Apenas tocar.