terça-feira, 31 de março de 2009

Pernas

Pernas para quê te quero?
as minhas andam a rodar
pela sala, pelos quartos
entre paredes vãs
que só habitam vontades
inutéis maneiras de se poluir
pés tortos
mãos sujas de afeto.
Não retribuir
fechar as gavetas
a mente
tragar
e esquecer.
Comprar volúpias
curar o tédio
esticar os dedos
desejar
outras pernas
e enfim
caminhar.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Filme Francês

Se a vida fosse um filme
Queria estar num filme francês
Desses antigos
Com mocinhas de cabelo Chanel
E mocinhos fumando cigarro
Queria dançar como em Bande à part
Num café
E beijar debaixo de chuva
Ou com a chuva batendo na janela
De um chalé francês
Queria ser Anna Karina
Brigite, Deneauve
Ou quem sabe Amélie Poulain
Para ser mais contemporânea
Queria mil estórias em uma só
E trilha sonora com ruído de vitrola
Viver a vida em preto e branco
Com lápis nos olhos
E mini-saia
E se em qualquer cinema minha vida passasse
Algum cinéfilo pagaria para ver.

Ação...

Os atores desmontaram a cena
Neste palco nada é previsível
A ação prevalece
E mesmo que a platéia bata palmas
Nem sempre o espetáculo agrada a todos.

Arco-íris

Não vi nada demais no teu sorriso
Preferia ver o arco-íris que vi num fim de tarde
Triste
Foi a tristeza quem o trouxe
Junto com a chuva
Arco-íris é feito de sol e chuva
Dois contrários
Como alegria e tristeza
Sem um o outro não existe.
E é por isso que arco-íris sempre é belo
Porque nasce do sol com a chuva.
Lágrimas perdidas entre as cores
De um raio de sol.
Consolam qualquer solidão,
Mas nem consolei a minha
Nem vi arco-íris
Perto de você.
Deu vontade de perguntar
Se no fim de todo arco-íris tem pote de ouro
Deu vontade de ir até lá e ver...
E largar o arco-íris na escuridão
Da nuvem cinza
De chuva.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Uma flor nasceu na rua!

Pintaram uma flor no chão
como a de Drummond,
Furou a rua
por uma passagem
e não houve cassetetes a impedir
os corações tragados pela vontade de mudar.
O sol continuou quente
e não feriu.
Fardas negras
seriam um confronto
para a liberdade
que também quis passar.
Lutar
e ter liberdade
ainda podemos?
Ainda seremos jovens
e resistiremos?
E tudo isso adiantará?
Perguntas para todos
respostas para poucos,
mas não há medo que derrube
a vontade de tentar,
mesmo que ela fuja
para casa
quase todos os dias.
E todos continuam a caminhar
continuam a buscar
um caminho.
E peço mais flores,
flores para os que não conseguem sentir,
flores para sentir
e sonhar.
E para os que não sonham:
Não pisem nas flores que deixaremos pelo caminho.

terça-feira, 24 de março de 2009

Por acaso

Enquanto paro
olho as poesias
que recitam para mim
cada qual com sua ilusão
eu sigo com a minha
que não cessa.
E o mundo desaba
em grandes desafetos
e o mundo continua
em pequenos afetos.
Nada que me faça chorar
Nada que me faça sorrir
perdido no mundo estou
a seguir os caminhos tortos
que escolho
com a venda que cobre
e descobre
dia sim
dia não
o acaso continua a me perseguir.

A me pertencer

Novo clarão
Novo som para se ouvir
Mais vaga-lumes em noites obscuras
E tons secretos
De pétalas de flor
Que vão
Perfumes
Um revólver para matar o que me faz viver.
Mais inesperados
Lucidez e loucura
E todas as cócegas do mundo
Em tudo
Particularidades
Corpo
Pedaços de corpo
Em torno
Poesias
Inspirações poéticas
E rimas periódicas
Em cada estação
Pessoas
Rudes e banais
Com toda força no coração
Cartas e datas
Vícios e desvios
Desvarios
Mais significados
Como estes sobre mim
A me pertencer.

Ai se estas horas passassem...

Ai se estas horas passassem como naquela tarde
Com o deslizar de suas mãos extrovertidas.
Morderia teu lábio inferior
Sugando cada gole do teu liquido
Até me embriagar
E logo tuas pernas
Intimas
Convidariam as minhas
Para um encontro
E seriam coxas e coxas
A se esconder
A procurar a parte mais oculta
Em cada corpo.
Meus seios pediriam tuas mãos
E elas atentas
Me apertariam com força
E intenção
E não existiria roupa que quisesse atrapalhar
Cada encontro de nossos ventres
Cada mordida minha em tua pele.
Teus dedos silenciosos
Guardariam os segredos descobertos
E poderia você me abraçar com ternura
Nua
Eu te sentiria com calma
Eu comandaria teu quadril
E seria totalmente egoísta nesta hora
Para procurar o meu prazer
No teu.
Seu cheiro iria me possuir
Nossos pêlos se apaixonar
E tua boca se quisesse
Poderia explorar
Mais segredos
Em qualquer lugar
Que a coubesse
Te pediria para ser minha
Só nesta tarde
E repetiria cada deslizar
De coxas
Cada encontro
Cada mordida
Até me enjoar com cada gozo
Teu e meu.
Ai, se estas horas passassem como naquela tarde
Não seria eu a imaginar
Seria eu e você
A nos saciar.

sexta-feira, 20 de março de 2009

A que será que se destina?

Viver não tem destino
Passamos da vida para a morte
E sonhamos em vida depois dela
Mas a vida aqui
Não se destina
a nada predestinado.

Em mim

O que há em mim que não cessa?
Se todo ar me devora
Soprando de mim
O que não quer viver
Longe
Distante de mim
A calma
Pulo na escuridão para não ver
Mas há vagalumes em meu quarto
Anunciando a claridade
Que quer chegar
Mas eu não deixo.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Mais

Quanto mais devaneio
mais delírio
quanto mais quero
mais desejo
quanto mais amo
mais gosto.
Tudo em mim
exagera
tudo em mim
enche até a borda
e derrama.
Exagero
o meu
eu
até a burrice
mais
e
mais.

Coração Partido

Corte este coração em pedaços
Faça porções
e dê para os que mendigam
amor.
Que eles façam bom proveito
do que ainda sobrou
ruína deste teu mandato
déspota.
Largue estes pedaços na rua
que os pássaros
destruam
com fome
o que resta
da última festa
que fizeste.
Jogue no lixo
mande reciclar
e com este faça um novo
límpido
coração.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Fonte dos desejos

Lembra das moedas que atiraste?
Numa fonte
distante
em que mil corações despedaçados
imploravam
um desejo atendido?
No inverno do querer
desejasse
e sob o comando de um deus qualquer
foste atendido.
Meu coração enfim era teu
com toda cor vermelha
e batidas apressadas...
Lembra do que desejava?
Realizaste.
Mas eu como cética
nunca pedi a deus nenhum,
nenhum encontro
nenhum carinho
nem mesmo liberdade
desta prisão
que é querer-te.
Vivo agora do teu desejo
desejo antigo
jogado em forma de moedas
numa fonte de amor inesgotável,
moedas banhadas de ouro
superficiais desejos
atendidos.
Desejo este
que de tão realizado
virou meu
tanto que nem te lembras
quantas moedas jogaste
nem lembras porque jogaste
nem lembras que queria em troca
amor.
Mais desejos fizeste depois
para mais corações frustrados
em fontes de sentimentos diferentes
amor, ódio, sexo, paixão, amizade...
Quantos corações se apaixonaram
por teus pedidos?
E porque tens tanta sorte
que te peço
Pegue de volta as moedas que atiraste
para que mais nenhum desejo teu seja atendido.

domingo, 15 de março de 2009

Pássaros

Que falta faz voar...
Voar para dentro
do que não é meu.
Gaiolas feitas com abraço
que protegem
e não sufocam,
voar assim tão alto
sem medo de cair...
Abro os braços
e só há vento.
Vento voa
vento sopra
que sopre para longe
o que não me deixa voar.
Sopre
quero voar mais alto
do que o alto que posso ver
Voar
Quero voar mais alto
que qualquer pássaro.

sábado, 14 de março de 2009

Tempo líquido

Conta gota
Cada gota
Despeja
O líquido.

Labirintos

Quantos labirintos sigo em mim?
Se estas ruas não satisfazem
boto a saudade bem guardada
para não chorar.
Não perco tempo
esse tempo pra mim
é irrestível
mas os labirintos
cada dia são mais difíceis
em cada um que entro
é mais um caminho perdido
que sigo.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Descolorido

Me deram pra usar um sorriso,
de falsidade amarela
Que não cabe no meu rosto
posto
que eu já tenho meu próprio sorriso
cinza
mistura do negro humor
que existe em mim
com o branco da paz
que consigo por aí
às vezes.
Misturo meu sorriso cinza
com o amarelo que me deram,
mistura que não dá certo
já que amarelo com cinza
não forma uma cor bonita.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Utopia


Ainda se acredita no amor
este
que passa longe
de ser
o que achamos ter encontrado.

terça-feira, 10 de março de 2009

Um pouco de tempo

Preciso pedir pro tempo
parar um pouco
me espera!
Houveram dias em que ele parou
no momento certo,
foi calmo escutar a sua voz
doce.
Hoje escuto a sua pressa
com passos de ponteiro de relógio
compassados
mecânicos
sem sentimentos...
Quase não dá tempo de amar.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Jardim

Então é noite
e tanto faz estar frio
ou calor
penso em várias estações
sou responsável por tempestades
assumo cada flor que nasce
voo com o vento do outono
e desejo um calor que não sufoque.
Colho estas flores
mas não tenho para quem oferecer
ponho num vaso
e vejo crescê-las
sem dono
só o sol que cuida
e a chuva as vezes lava.
Meu jardim ainda cresce...

domingo, 8 de março de 2009

Acordo

Acordar sem o sonho
preso no pensamento
Fingir que a tarde vai colorir
com seu crepúsculo
sem doer
Esperar a noite
para sorrir
sorrir sem amar
E depois dormir
como se tivesse ainda
algo para sonhar.
Sem esperança acordo,
mas a manhã é linda
e me chama injusta
por não perceber essa beleza.

sábado, 7 de março de 2009

Desisto

Se ao menos os olhos se abrissem
Com estes mil socos
Que me dão
Mas não,
Se fecham
E sonham.
Se ao menos fosse doce
Como há algum tempo atrás...
Eu só precisaria de um afago
Seria triste da mesma forma
Mas seria terno.
Se ao menos eu quisesse esquecer
Mas vem como um vazio
E preenche tudo em mim.
Não tem mais nada que me faça querer
Não tem mais abraço nem beijo
Nada
E ainda quero
Como se querer bastasse
E porque ainda quero
Desisto
Para poder parar de querer.

Fuga


Se preciso fugir
pulo do prédio mais alto
a queda é maior
compensa a fuga
com a dor.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Dói

Dói no corpo
como machucado
dói na alma
como morte
sobe seco
pelo pescoço
aperta
e dá um nó
Sangue ferve
raiva
esperança
espera
e não alcança
Amargo e quente
no gosto
e o cheiro doce
fica enjoado
prato frio
que se come calado
Na pele
a cicatriz que não sara
no mundo
tudo é inútil
mais tarde
essa dor
vira insulto
a culpa
fere
a inércia mata
é dor que dói
e não para
lateja
estoura
rasga.

Acho que agora posso chorar.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Flerte


O olhar do outro é sempre atraente
quando olha
o outro
a frente
rente
incomoda
provoca o ego.
Distraído
ele sente.
Os olhos falam,
são dois pará-raios
dos outros olhos
que olham.
Quando se percebe um olhar
reto
para o seu olhar
a alma inibe-se
depois se assume
como um pavão
tenta ser mais
e provoca
quando
permite a provocação,
é uma luta de egos
egos infláveis
pelo estímulo do outro olhar.
Olhos mentem
são dois atores
cheios de maquiagem
e sem nenhum talento
para interpretar.

terça-feira, 3 de março de 2009

O amor é egoísta

O amor é tão egoísta,
dentre tantas pessoas no mundo
escolhe apenas uma
para querer.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Película


Reconhecer a alma
pela máscara
a película fina que envolve
cada ser,
um profundo conhecimento
só é possível depois
do re-conhecimento
das formas que habitam
o corpo de cada um.
Cada ser
tem de ser
vários
para sobreviver
o que se há de ter
na vida.
E antes que se faça uma ferida
sobre a pele exposta
procurando cavar o verdadeiro
é necessário uma caricia
na pele que se vê
a primeira vista,
como reconhecimento
o tato
o primeiro sentido a reagir
dentre todos os sentidos
que usamos
para conhecer.

domingo, 1 de março de 2009

Quero

Canso de rimar com a solidão
canso de falar do tédio
canso de cantar o amor
estes termos todos já não cabem
o que busco agora é a felicidade
tranquila
como mãos amigas
e olhos ternos
como cheiro de pitanga
e gosto de hortelã.
Quero mais sorrisos necessários
e palavras doces
quero voar nos pensamentos
sempre avante
como um pássaro
livre
sem gaiolas
ou cadeados
quero pés
sem peso
pisar como plumas
este meu chão de vidro
quero paz
e doce de banana
quero abraço
dado por quem se dar
e beijos de lábios sensíveis
alegria
quero festa
e tudo o que me resta
e o que sobrar.