sábado, 14 de novembro de 2009
Vida
Com a mesma pressa da chegada, a partida, em ritmo certo para a mesma velocidade, em destinos contrários, janelas embaçadas dentro das pupilas cansadas de rotina e silêncio cotidianamente constrangedor. As mesmas caras expostas nos mesmos aposentos largados em frente a cada um, com a paisagem cheia de nucas desconhecidas e cabeças, e cabelos e mais nucas e nunca a conhecer nenhum pensamento delas. Digo, nem sempre nunca, vez ou outra, uma dessas nucas inclinava-se para o seu lado e começava a falar sobre o tempo, a vida ou a morte. Ela com atenção escutava procurando traços de si nos outros, ora fingia escutar procurando traços de algo desconhecido nos rostos e esquecendo as palavras ouvidas. Tudo passando veloz, como os carros amigos ao lado, conversas, ruas, pessoas, casas e luzes. Com tanta paisagem se pintaria milhões de quadros, mas a velocidade na janela não deixava fotografar, se perdia em seus pensamentos e eles passavam ligeiro como fotografias formando uma película nunca mais revista. E tudo a passar, como os livros lidos da estante, alguns lidos com calma, outros lidos e apenas lidos, nada para se lembrar. Pessoas e situações, e beijos e palavras, e vindas e vidas. Dos trezentos e sessenta e cinco dias vividos em cada ano, nos lembramos de alguns poucos, e das vinte e quatro horas de cada dia, dormimos e nós esquecemos, e a vida não é tão devagar quanto alguns setenta anos vividos por uma pessoa, a vida passa rápido, veloz como as imagens passadas nas janelas dos carros e dos ônibus. Muitas vezes enquadradas outras em movimento continuo que não cessa, esquecendo assim o motivo de se existir. Se é que há motivo, ou se os motivos são tão inconstantes quanto o movimento das paisagens nas janelas. Passam, não ficam, não se tem o que compreender.
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