sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Noite Cheia


Noite fria, cabelos com o mesmo penteado, a mesma roupa, e os mesmos tênis all stars que revelavam toda a sua personalidade, e no coração apenas o vazio de se conformar em estar só. Ela ainda não sabia desejar, antes daquela noite pensava que sabia, mas naquele dia nem pensava em desejo, quando nos conformamos com o vazio ele nos leva como um balão aonde quer sem que nem percebamos, caminhamos como um saco vazio levado pelo vento, sem destino e sem nenhuma esperança vinda de sonhos. Nem tinha percebido que estava livre, que os sonhos inúteis que tinha tido há alguns meses atrás tinham passado, nem tinha percebido que seu coração estava cansado de bater sozinho e que o frio da noite poderia se transformar em calor se quisesse e desejasse, mas só se quisesse e desejasse. Escuro, ruas vazias e caminhos tortos como seus pés, a noite era pintada de rubro, como seu coração, anoitecia em alegrias inventadas a cada esquina, luzes de postes, olhares luminosos e bocas fingidas. Pensou que poderia também inventar uma alegria, dessas bem canalhas, abrir garrafas e acender cigarros, sorrir e inventar estórias e elogios, inventar um outro eu, menos sincero e mais interessante, para alegrar pessoas e inventar a alegria em si mesma, fingir que a felicidade era eterna, sabia que sabia fazer isso e fez, “se tá chato agite”. Mas seu rosto se cruzou tão depressa com outro que de tão vazio também nem o percebeu, não se perceberam. A principio, pois o outro rosto era mais cínico que este, e mais extrovertido e sonhador, nem precisou de garrafas e cigarros, aliás nem fumava, a principio, e foi em direção a este rosto que o aceitou como um rosto novo em meio a sua rede de rostos que se ampliava. Logo o novo rosto era mais que um rosto, eram palavras, olhos de castanho profundo e singelo, gentileza, casa, comida e pés descalços, conversas, insinuações mais tímidas que eu, mãos, beijo, perfume e adeus.
- Adeus? Mas não vá agora, pode ficar.
- Mas tenho que ir. (com o coração indeciso).
- Então tá bom, vou te ligar.
- Pode ligar... (não acreditando)
- Vou ligar!
E ligou...
E os dias se fizeram cheios outra vez...
Tão cheios que a esperança morre e nasce a cada segundo, e enquanto eu estou escrevendo este texto, aquele rosto deve esta passando em outro lugar mais divertido que a minha sala de estar, mais conversas longas poderão conquistá-lo, e mais um beijo pode desencadear uma paixão. Mais e mais paixões estarão acontecendo neste instante, mais e mais corações vazios estão sendo preenchidos, e o mundo não é feito só de rancores, e o amor é um mero instrumento da felicidade, pergunte a ela o que sente, se sente-se vazia. Pergunte se ela não quer encontrar aquele rosto de novo. Pergunte a ela.
Ela encosta a cabeça de novo no vazio, e se põe a indagar onde estará aquele rosto agora, aonde estará aquela noite?

Um comentário:

bocadepoema disse...

axo q devemos parar de escrever sobre vazio e solidão..atrai kkk