sábado, 19 de dezembro de 2009

Uivo

Os cães podem latir a noite inteira
A velha canção que já me fez tão só
O meu vicio
Não tem risco
De ser curado
Vai e volta
Como um grande culpado
Uivando a noite inteira para lua
Desejando sempre um amor inesgotável
E é na novidade que procuro
Um brilho
Um olhar mal-amado
Assim como o meu
Triste e desassossegado
Bato a porta
Com as patas sujas
De um grande amor do passado.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Sonho profundo

Sentiu o coração pulsar mais lento, eram batidas inertes, sem força, sem agitação. Não havia felicidade nem mesmo com a vitória do seu time. Era meia-noite e o relógio não andava, toda hora que olhava era a mesma hora, segundos feitos de fumaça, silêncio e tédio. Seu coração resumia o pulsar do relógio, tic, tac, tic, tac...Marcava a hora de tomar o remédio que o fazia mais vivo. Mas era um corpo podre andando e falando. Um cadáver vivo, um morto vivo. Assim que sentia sua velhice, uma lembrança de tudo, uma penitência pelo mal que causara e pelo mal que os outros lhe causaram. Ao deitar-se, lembrava-se da sua infância, assim se sentia feliz. Lembrava do seu coração fresco, agitado, correndo com as águas e forte como as árvores, seus pés macios sentindo a terra, os morangos silvestres, a cor dos olhos da amada, o beijo roubado por trás da casa. Límpido, livre, em queda livre. Fechava os olhos e abria os lábios. A felicidade vinha do passado, seu presente tranqüilo era um enorme precipício para a morte, com uma fila enorme, era forte ainda, diziam, não tinha previsão de sucumbir. Mas a morte já estava presente, dentro do baú de cartas antigas, nos porta-retratos, movéis, na criada companheira, e por último a encontrava no espelho, a sua frente, vestida de rugas, branco e lentidão. Provou da comida e o gosto era o mesmo, o mesmo cardápio, as mesmas manias, o que mudava era a maneira de tudo se movimentar, agora os movimentos caminhavam como o ponteiro que marca a hora do relógio, trinta anos atrás era o ponteiro que marcava o minuto, e assim antes fora os segundos, milésimos, e o principio do tempo. A pilha do relógio acabava a cada dia, e não era mais possível trocar, pois os ponteiros se arrastavam barulhentos de velhice. Logo seria mais uma cova catalogada numa certidão de óbito. Mas isso tudo já começava agora, já começava quando a sua pele não podia mais se esticar, a morte era um processo lento, e a velhice era a prova da deterioração, o espírito não mais valia. Tudo era corpo, um corpo velho se arrastando para um buraco cada vez mais turvo, e tanto fazia agora acreditar em Deus. Não. Fazia. Era mais fácil acreditar em Deus agora. Crer mas não acreditar, iludir a mente já que o depois é só incerteza, que importa ser ateu quando se está prestes do desconhecido? Toda a não-crença desaparecia, e o espírito antes com vigor, era mera incerteza. O corpo jazia. As lágrimas corriam pelo seu rosto e umedecia o que estava seco, o retrato, amarelado, antigo como ele, e os olhos da amada brilhantes como ainda são os dele, porque os olhos não perdem o brilho, mesmo circulados de veias cada vez mais carnosas e avermelhadas de sangue pálido. Um sonho. Agora já poderia julgar em que momento teria sido mais feliz, e este foi o mais breve e o mais eterno. A foto pintada de preto e branco pelas mãos do tempo, suas mãos trêmulas de lembrar, seus olhos diziam... Passado tão presente. Me perco, será que ainda ancoro meu barco neste rio? Os dias tem sido os mesmos relativos de sempre, e quando a encontro ainda sinto o frescor da sua conversa, a vontade de lhe ver, mesmo lhe achando a cada dia mais inútil para mim. Meus dias tem sido inúteis, cheios de imaginação e de uma realidade diferente da que desejo, por isso que sigo pela a porta aberta da minha imaginação que mostra passado. Passado. Cheio de alguma coisa sua que sobrou na minha mente, mas sua do que de outros, porque você foi o meu mais completo sonho. Sonho bom, sonho breve. Não me apego a nada, nem ninguém, me apego a mim, e eu sou o que não quero. Conversava com o tempo, era um ator, sem platéia, sem coadjuvantes, todos morriam. E ele ainda estava, vivo? Era mais ele, e ao mesmo tempo todos e tudo, tudo que era passado, e este tempo para ele era igual ao presente, pois ele era o próprio passado, o seu e para os outros também que lhe viam e viam o seu futuro e o passado antes deles. Nem mesmo poderia causar felicidade para os olhos dos outros, sentia-se pesado, e acordava percebendo que não tinha ninguém, conversava só. Sua amada tinha morrido, como assim também morrera seus quatro irmãos, seus país e seu filho prematuramente, já não sentia mais saudades e sim vontade misturada com a falsa esperança de revê-los em breve. Sonho completo... Agora pensava no futuro e na sua mente a imagem da amada, que por sorte tinha morrido jovem, antes do tempo. Lhe encontraria assim, linda e jovem e seria feliz. E se tudo isso não existir que importa? Prefiro sonhar, um sonho inútil e breve. Mais breve que a sua velhice que o ajudava a devanear, também tinha suas vantagens, não existia mais apego a nada, nem a ninguém, poderia ser egoísta sem se sentir culpado. Poderia ser eu, e o seu a queria, jovem e bela como antes a vira. Antes do tempo de morrer. Seus lábios se esticaram mais uma vez acordando a pele que sorria barulhenta de velhice, uma porta aberta para um sonho profundo.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Impotência

Os sonhos voaram feito balões
Na plataforma concreta da razão
Teu amor ficou tão longe de ti
Que nem os transportes conseguiram superar
A distância
Nem mesmo os perversos inventos tecnológicos
Suprimiram o tremor da tua carne ao anoitecer
Nem mesmo as palavras
Nítidas e apaixonadas sob seus olhos
E os versos maculados de saudade
Acabaram por ser mera poesia romântica do século XIX
E ainda perguntaste se havia outro
E respondeste tua própria pergunta
Com os sonhos colocados sobre os cobertores
Dormiste de novo
Para nunca querer de novo acordar.

domingo, 29 de novembro de 2009

Reescrevendo a folha em branco


Dentro do tempo
Vi a velha máquina
Tão velha quanto o rosto refletido
No espelho adormecido.
Senti saudades da beleza pronunciada
Acorda espelho!
Diz se existe alguém mais bonito que eu?

Meus dedos tortos de juventude
Minha mão ágil de aventuras juvenis
Endireitei o espelho para ver a folha em branco
E criar um passado já passado
E lembrar de novo o que se foi


Olho o branco com mil possibilidades de ser
Mas só o ruído da máquina
Com vogais e consoantes
Brigando entre si
Para resgatar aquela antiga beleza
Presa no castelo da bruxa memória.

Escrevo então como um velho que sou
E resgato a beleza da minha juventude
Assim faço o presente vivo
E o passado morto
De saudade ou de tempo.
Vivo
E não quero mais rejuvenescer.


Por Saulo e Lella

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Barco embriagado ao mar

Já nem sei em que barco me levo
As velas flutuam com o vento
Voam.
O barco é veloz
Sobre águas mansas
E lento
Sobre tempestades.
Me contradigo
Puxo o leme em direção oposta
E ancoro sobre os mais temerosos lugares
Águas revoltas
Barco embriagado
Luzes de faróis piscam
A escuridão que não me deixa ver
Vou partir
Este porto já não me porta
Preciso navegar.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Sono

Fechar os olhos
Adormecer os pensamentos
Escutar o inconsciente se manifestar.
Preciso achar a melhor cama
E ouvir uma canção de ninar
Quero morrer
E acordar pela manhã
Quero a noite
Sem goles e tragos
Apenas sonhos
Que nunca passarão
A ser
Realidade.

sábado, 14 de novembro de 2009

Vida


Com a mesma pressa da chegada, a partida, em ritmo certo para a mesma velocidade, em destinos contrários, janelas embaçadas dentro das pupilas cansadas de rotina e silêncio cotidianamente constrangedor. As mesmas caras expostas nos mesmos aposentos largados em frente a cada um, com a paisagem cheia de nucas desconhecidas e cabeças, e cabelos e mais nucas e nunca a conhecer nenhum pensamento delas. Digo, nem sempre nunca, vez ou outra, uma dessas nucas inclinava-se para o seu lado e começava a falar sobre o tempo, a vida ou a morte. Ela com atenção escutava procurando traços de si nos outros, ora fingia escutar procurando traços de algo desconhecido nos rostos e esquecendo as palavras ouvidas. Tudo passando veloz, como os carros amigos ao lado, conversas, ruas, pessoas, casas e luzes. Com tanta paisagem se pintaria milhões de quadros, mas a velocidade na janela não deixava fotografar, se perdia em seus pensamentos e eles passavam ligeiro como fotografias formando uma película nunca mais revista. E tudo a passar, como os livros lidos da estante, alguns lidos com calma, outros lidos e apenas lidos, nada para se lembrar. Pessoas e situações, e beijos e palavras, e vindas e vidas. Dos trezentos e sessenta e cinco dias vividos em cada ano, nos lembramos de alguns poucos, e das vinte e quatro horas de cada dia, dormimos e nós esquecemos, e a vida não é tão devagar quanto alguns setenta anos vividos por uma pessoa, a vida passa rápido, veloz como as imagens passadas nas janelas dos carros e dos ônibus. Muitas vezes enquadradas outras em movimento continuo que não cessa, esquecendo assim o motivo de se existir. Se é que há motivo, ou se os motivos são tão inconstantes quanto o movimento das paisagens nas janelas. Passam, não ficam, não se tem o que compreender.

Aqueles olhos claros

Chiquinho foi embora depois do carnaval, já farto de tanto batuque e pauladas.
A vida não era fácil, brigas cotidianas, grana curta. Um dia todo mundo cansa.
Ninguém sabe ao certo por onde ele anda agora. Uns o viram acabrunhado próximo à feira, outros juram que ele conheceu outro alguém e apaixonado decidiu sumir. Amelie estava muito focada em suas novas atividades. Depois de tanto tempo juntos ela se interessou por vida acadêmica e boêmia e em nenhuma delas cabia mais Chiquinho. Às vezes ele passava dias inteiros sem ela e quando se viam não era a mesma coisa. Não por ela, não sejamos injustos. É que Chiquinho lá dentro dele almejava outros braços, braços mais atenciosos. E dava pra notar em seu olhar perdido por baixo da mesa de sinuca. Um belo dia tomou coragem, atravessou ruas e ruas e tomou gosto pelo vento que rodava solto por seu corpo. Cheirou porcarias e carne fresca, parou diante dos carros e acelerou quando podia. A casa ficava cada vez mais distante e não sentia saudades. O chão chamava mais chão e ao olhar para trás nada o impedia de prosseguir. Cansado durante a noite desejou uma só vez a velha cama de tapete e a água fresquinha perto da porta da cozinha. No mais, seu coração aventureiro rimava versos ao som de novos batuques de outros carnavais nada parecidos com os de antes. Mas aquela casa com tijolos quadriculados e o leve roçar das mãos de Amelie sobre os seus pêlos lhe fez entender que as aventuras de uma nova vida não lhe era assim tão atraente, nada se comparava ao cheiro do colo de sua amada, nem mesmo o contato com o chão gelado de sua antiga casa, e as músicas que vinham do rádio da sala direto para seus ouvidos quando estava dormindo. Lembrou do último olhar que viu de Amelie, incompreensível como o último olhar que deu a ela, azul e enrugado, Amelie entendeu mas não soube dizer como, seus olhos reproduziram a mesma sensação, era a derradeira vez que o vira. E assim não sentiu a mesma calma que sentia quando lhe encontrava no terraço, dormindo no tapete, calmo, mesclado, de olhos tristonhos que pediam carinho, e ela dava mesmo sem os ver, tantas vezes lhe sufocou com isso, tanto que Chiquinho despejava sobre ela seu veneno felino, e lembrando disso Chiquinho sofreu, lamentou a fuga, lamentou o último olhar de Amelie, lamentou os novos amores encontrados, lamentou a volta. E descendo a calçada em busca dos dedos delicados de sua verdadeira amada que chorava sob a varanda da casa quadriculada a sua espera, encontrou o brilho de uma luz que não sabia de onde vinha, esse brilho ofuscou sua visão e deixou tudo claro. Amelie continuava a esperar.

Por Paula e Lella

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Caminho

Cheio do pouco
Vazio
Que tenho.
Inspiro um olhar
Cheiro o silêncio
Busco algum sorriso
Que me leve a crer
Que existe
Algo
De verdade.
Na minha vida
O objetivo
É querer
Depois se aprende
Com o que não voou
Do pensamento.

sábado, 17 de outubro de 2009

Estranhamento

Puxou para o pulmão com uma força estranha, parecia puxar o último ar da Terra, o último suspiro vindo de um amor desesperado, e não havia solidão, estava tudo completamente se enchendo como os pulmões. Os olhos se abriram, as pupilas descobriram o mundo, junto com o olfato e a boca ainda inspirando a fumaça cálida e estúpida como um incenso de laranjeira aceso sob o nariz. Fechou os olhos com vontade de esquecer, a última mágoa, a última tragédia, a última solidão. Estava em paz. Seu corpo jazia feliz, assim ao mesmo tempo desesperado pela busca de um coração que batia aos pulos, e uma felicidade estranha que parecia uma morte que nunca saberia como seria, um gozo, uma poesia, um olhar calmo ao lado que pedia a mesma sensação. Entregou sua sensação como se fosse a mesma que sentia, como se fosse parte sua. Seria bom compartilhar. Assim tudo se acalmava, estavam os dois inertes, imóveis quanto aos problemas do mundo, que naquele instante não existia, e pouco importava se existisse. Algo flutuando no ar, algo que não poderia ser visto, nem compreendido. Se olharam e não tiveram medo do silêncio, se olharam e se esqueceram. Enquanto um se via o outro se olhava, e assim ambos se enxergavam e buscavam palavras, porque os seres humanos tentam compreender tudo. E ao perceberem que não havia resposta, procuraram não compreender, e acharam mais respostas do que se perguntassem. Quatro pupilas se olhando, abertas, amendoadas e silenciosas. Tiveram medo e olharam para o vazio temendo nunca existir verdade e temendo que este momento se acabasse voltaram a se ver, tentando compor com palavras alguma forma de preencher o incompreensível.
- Quando estou com você sinto algo estranho...
- Estranho é o que não se sabe explicar ou que é diferente de tudo que sentimos antes?
- Acho que é o que não se sabe explicar, mas não diferente de tudo... estranho é não saber lidar...
- Então esse “estranho” traz algo de irreconhecível, talvez pelo menos a principio... mas porquê compreender? Quando se reconhece se perde este estranhamento, e assim a atenção, a importância ou encantamento.
- Estranhamento... Em literatura usam este termo para dar nome ao processo pelo qual percebemos quando uma obra é literária, ou seja, quando ela difere da não - literária.
- Seria o que sentimos ao ler um poema, por exemplo?
- Sim. Achamos estranho quando lemos um poema, sentimos algo incompreensível, porque a literatura não é compreendida imediatamente como o texto não-literário, há este estranhamento, não entendemos de imediato a ideia, ou a mensagem que o texto quer passar. Entende?
- humm...Mais ou menos como o amor...
- A principio?
- Sim. O amor... é estranhamento.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Tantas palavras

Tantas palavras
Os olhos cansados de ver
E as mãos sem ter o que acariciar
Despede-se da noite como um namorado que não ama
São tantos goles a rondar por sua cabeça
E as palavras...
Embebedam-se com o silêncio
E dizem
Dizem em tantas línguas
Cansados os olhos mentem
Querem dormir, mas esperam
A resposta que nunca vem
E tão farto do silêncio das palavras
O poeta procura
E só acha
Mais palavras.

Segredo

Um olhar de calmo segredo.
Segredasse as minhas palavras
Agora a resposta é mera convenção
Crio o amor para viver melhor o tédio
E me entedio de tanto querer
E não ter.
Responde:
Existe resposta para as minhas palavras?!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Guarda

E os poetas como sempre dizem
não param de falar,
e nada fazem com as coisas que dizem.
E ela ao encontrar a poesia, guarda
achou bonita só pela beleza
ou porquê alguém a fez para ela?
Dorme no silêncio
é um sonho feliz
ser amada
e não amar ninguém.

Donos do tempo

Ventania do tempo
Flutuam as fumaças dos cigarros
Caras amendrontadas pela solidão
O que é o tempo, senão um animal paralítico
Que se arrasta feroz
Em uma comovente tentativa de ser!
Deixa a natureza se manifestar...
Estão aqui!
Como jornal, poesia e vinho
Fazem desenhos nas paredes
E lembram dos momentos mais felizes
E o tempo ainda se arrasta paralítico
Param....
Pensam...
Inspiram-se
transpiram
Transcendem!
Brincam com as bocas roxas
Envoltas de fumaça
São donos do tempo!

B.H.A.R

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Perdão

Nem mesmo as palavras bastam
Perdi o hábito
Este que me quer agora ao contrário
Antes viver e escrever
Agora viver e esquecer.
Aprendi o ritmo das ruas
Do gole desenfreado
Com ânsia de se embriagar,
É tanto que quando me embriago
Esqueço da beleza do efeito
Esqueço que um belo poema poderia dar
Este segundo do gole do teu beijo.
Não escrevo e vivo
Antes morreria para escrever
As palavras fugiram
Estão com raiva de mim
Embebedaram-se em algum bar esperando por minha volta,
E eu como a mulher que traiu
Volto e peço perdão
Só me sinto feliz perto das palavras.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Pássaros

Dois pássaros levaram meus desejos para perto de um coração
Puseram uma faixa que tinha escrito “destino”
Alguns viram e acharam bonito
Outros acharam estranho
Outros nem quiseram falar
Quando cheguei e mirei a faixa quiseram me expulsar
Tinha uma moça que me disse o porquê
Com os olhos ora vivos ora apertados
Fui em busca de escolher
Entrar naquele lugar ou me esconder
Mirei de novo a faixa pregada no coração
Trabalho de dois pássaros
Pássaros constroem ninhos
Pensei e assim conversei com eles
Me levaram em vôo
E mostraram a porta
Foram embora num bater de asas ligeiro
Bati na porta com intenção
Faz algumas horas
Que espero
Por um vôo de volta
Ou pela entrada sorrateira por esta porta.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Ventania


Esqueceu do vento soprando os cabelos
e lentamente abriu a porta
com átomo
ato
e silêncio
não precisou de força
esvaziou-se por completo a sensação,
simples
as janelas se abriram em combinação
e outros ventos fortes entraram.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Nostalgia


Vasculho um poema teu procurando poeira
Poeira do meu passado
Se existiu algo em ti igual a mim,
Nostalgia inútil
Culpa de um presente vazio
Repleto da tua ausência.

Pegaste o primeiro trem
Aquele que foi o meu terceiro
Aquele que na estação eu quis muitas vezes pagar tua passagem
E agora com o tempo foste embora,
Sem precisar do meu adeus no portão de embarque.

Me despedi te dando dois beijos no rosto
E nos meus olhos a vontade de te guardar para sempre
Na minha boca as palavras emudeceram
Já não tinham mais sentido
O meu abraço falou por elas...
E no teu corpo fazendo um laço
Eu quis deixar algo de mim em ti
Algo maior do que eu espero ter deixado
E tirar de ti algo mais forte do que você me deixou
Algo mais forte que senti
Quando estavas presente.

Da dúvida do amor que sentisses
E das perguntas que não tive coragem de fazer
Eu fiz um sorriso
E um coração cheio de melancolia e saudade
Porque o coração não finge
E esta saudade não se esvai com o fim
Nem com a promessa de ser feliz.

Somente um novo amor
Calmo e silencioso
Com os passos sorrateiros
Feito os que o teu deu no meu caminho
Pode essa saudade afastar.

sábado, 1 de agosto de 2009

Trague-me


Fumaça...
Todos os cigarros são contentes, queimam e ardem, sem precisar ter algum complexo motivo, apenas queimam e ardem. Eu me sentiria mais feliz se fosse um cigarro, aceso, feliz e ardente, na boca de qualquer um. Me sentiria mais feliz se tudo fosse um sim continuo, sem perguntas, sem precisar de respostas. Apenas fumaça saindo das bocas, de vez em quando algum desses fumantes me fumaria com gosto e faria desenhos com a fumaça, eu voaria e desapareceria, faria muita gente feliz, por segundos e morreria junto com o filtro jogado no cinzeiro e as cinzas caídas na mesa, sem nenhuma complexidade, sem precisar de teorias, de ideologias, de deuses, amores ou gratidão, apenas alguns reais, cinzeiro e fogo. Sem precisar saber quem sou eu, em que mundo estou, em que roupa me colocaram, em que coração bato, em que maternidade nasci, em que número da identidade me deram, em que universidade estudo, em que emprego devo arrumar, em que marido devo escolher, em que nome vou dar para meu filho, em que cemitério vão colocar meu corpo. Me trague leve, sinta a minha sensação, depois me jogue fora. Não quero saber quem sou. O que sinto tem que ser rápido, para não doer, o que sinto tem que ser breve para não permanecer, o que sinto tem que ser contado para não durar. E assim quero desaparecer como fumaça, lentamente na visão de quem sonhou, e rápido na realidade dos dias. Me bastam complexidades, me basta contar o tempo, não uso relógio, me basta lembrar, não vou a museus, de antigo só as músicas e os filmes, de presente só este dia, e amanhã já outro. Chega de existir, com o passado que já foi, vou exorcizar tragando o final deste cigarro e jogar o filtro fora. Vou pegar uma carona para minha solidão e morrer por hoje, amanhã renasço e volto a ser o que quero e o que não quero, não vou falar, quero emudecer e existir, quando falo morro, quando vivo, vivo. E se é preciso tragar mais forte, vou procurar o cigarro que me agrade e soltar baforadas na cara dos outros, antes que a vida me trague levando meus pulmões.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Silêncio para escutar.

Os minutos também andam, com pressa e não respondem a ninguém. Olho o relógio com aflição, minha juventude passa, atenta molho o corpo com a intenção de tirar o corpo velho do passado e me sentir mais jovem, me sentir outra, visto a roupa com a intenção de parecer algo, de novo algo desejado, olho no espelho e só vejo a minha aparência, os anos, e o que os outros dizem que sou, uma figura construída por escultores egoístas, olho e não vejo nada que tenha sido da minha preferência, nem mesmo o corte de cabelo que eu escolhi, nem mesmo a roupa que comprei, algo inusitadamente induzido por forças que não se sabem bem de onde vêm, se da tv, se da moda, do cinema, da internet, dos amigos, da família, olho e me vejo, e na aflição da ansiedade de poder ver o que realmente procuro, acho-me perdida dentro do que não sou, mas nem por isso me desespero, cumprimento a figura no espelho e saio com a certeza de que encontrarei pelo caminho milhares de espelhos refletindo de novo um corpo e uma roupa induzidamente escolhidos. Se as minhas mãos pudessem passar o que senti ao tocar os seus cabelos, não precisaria falar e não precisaria ter respostas, a propaganda da tv diz que as perguntas movem o mundo, e sinto assim que a respostas o param, procuramos respostas em tudo, até num simples olhar enviesado, temos as palavras para nos comunicar, mas nem sempre as palavras saem de nossas bocas da maneira que desejamos, as vezes elas nem saem, em outras vezes é preciso estar calado e escutar. Como posso responder com o silêncio? Se eu pudesse teria mais tempo de responder depois com palavras, palavras certas, mas elas nunca são, e o silêncio seria a solução para dizer exatamente tudo aquilo que sentimos, sem erros, sem lapsos, sem o “eu não queria ter dito isso”. O silêncio de um olhar, o silêncio de um toque, pensando bem o silêncio também confunde, pensando nos silêncios dos olhares, estes se não forem bem examinados não são bem interpretados. Mas talvez eu procure a resposta de um silêncio de verdade, sem pensamentos, estes pensamentos que nos tiram do lugar de onde estamos presentes, quero estar presente em silêncio, e escutar o que passa agora, porque é tão difícil escutar a realidade? Estar presente não é estar com o corpo colocado em tão local, se eu estou aqui estou pensando em várias coisas, meu corpo está sentado nesta cadeira, com as mãos sobre o teclado digitando tais palavras, mas a minha mente esta em vários lugares, que os meus olhos não podem acompanhar, e é por isso que as vezes se perdem, troco as palavras e me distraio. Só me sinto presente quando realmente quero, e é algo que não é tão fácil de controlar, se eu conseguisse veria e sentiria as coisas mais plenamente, é um exercício que equivale a meditação, como diz um filósofo indiano que li esses dias, “morrer para renascer”, morro para o passado para viver plenamente o presente, eis algo difícil de conseguir. Tentei morrer com o passado, abri o chuveiro e tomei um banho num ritual que pudesse me lavar do que eu não queria mais ser ou ter, me enxuguei e os restos deste passado ainda estavam no meu corpo, os restos sujos do passado continuam em nossas mentes, e nós os prosperamos nos acontecimentos da vida, não estando realmente presente no presente. Mais eis que um segundo do toque das minhas mãos em seus cabelos, e o leve encontro dos nossos olhares a buscar respostas em um e outro, fez do presente, presente, ali eu estava completamente, com os milhões de eus que me habitam, os escolhidos e os induzidos, estavam todos no mesmo lugar repetindo o mesmo gesto numa seqüência sincronizada, marcados no tempo naquele local escolhido, me senti presente e ao meu lado uma promessa fugidia de amor. Eis a resposta, encontrada no silêncio, a resposta da busca, a resposta da vontade de estar presente, é só com o amor que nos sentimos presentes, é só com o amor que nos sentimos eternos. E por amor procuramos respostas.

Fumo

Bem que as mãos também falam
Atentas elas tocam
O que os lábios querem tanto tocar
Aflitas tremem
E o cigarro é aceso com dificuldade
Com a chama vejo meu drama
Sentir para mim é acender este cigarro
Sinto e queimo.
Logo as cinzas caem
E onde elas caem não posso prever
Um cigarro infinito
Não paro de fumar
Tão rápido às vezes como um palito de fósforo apagando
Mas sempre me dar prazer
Amargo o gosto que fica na boca
Como fumo
Nicotina amarelando o meu sorriso
Ou fumaça saindo das narinas ocultando a visão
Trago lentamente para sentir acalmar a sensação
E me acabo junto a este cigarro.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Girassóis


Tanto canto
pelo canto dos teus olhos
que estes olhos achei,
assim por acaso na rua coberta de gente.
Com tanta gente
a perseguir horários
me esbarrei na película fina entre o desejo e a razão
pulei nos teus olhos
e vi girassóis,
girando dentro da minha cabeça.
Com as mãos atentas
e as pernas bambas
quase que fugi,
mas fiquei ali
parada
correndo entre os girassóis.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Danço


É verdade que quero dançar
Já faz tempo que procuro o ritmo certo pra minha dança
Não importa o parceiro
Se suas mãos combinarem os passos com as minhas
Danço
E não importa o salão
Se houver luzes
E elas clarearem o que é importante
Danço
Com vestido ou não
Quero sentir a presença de existir
e a melodia também não importa
danço
até as pernas quererem parar
e as portas dos bares fecharem
e os instrumentos desafinarem
se o meu ritmo estiver em sincronia
eu danço
até ensurdecer este silêncio mudo
que me impede de dançar.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Sem saudade

Tua imagem se esvai
como um papel solto ao vento
lenta.
Procuro teu apertar de olhos
fechando os meus
e só acho as tuas pálpebras
embaçadas
como num sonho,
teus olhos fechados a sonhar
e os meus abertos a acordar
procurando o sonho perdido
entre a cama e a noite.
Não consigo mais te achar
te perdi
como um sonho bom acordado
e um pesadelo superado,
deixando os dias sem olheiras
e as noites insones.
Quantos rostos lembrei depois que te esqueci?
Quantos sorrisos me deram
mais chances de nunca mais te lembrar?
Te perdi
e já fazia tempo.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Pálida visão


Se a noite me trouxesse uma visão
Tão clara quanto a luz da lua
Sob o copo de cerveja nítido de amarelo,
Um deslocar de girassol
Girando para mim
Como um rosto amarelo de nitidez.
Nítido seria esse destino
E haveria paz nas casas, nas ruas e nos prédios.
Haveria uma escolha
E não haveria hipóteses.
Uma visão
Certa como a certeza que o sol tem de tomar o lugar da lua
Certa como a normalidade
A rotina das madrugadas,
Sem a angústia de decidir
Entre o vácuo e o vazio
Uma visão
Como quando dois pares de olhos acesos se encontram
Amarelados por algum desejo distraído
Amarelados de álcool e cevada
Amarelos
De uma palidez insossa
Que reflete em cada copo uma cor
Tomada com gosto por quem também procura
A mesma visão.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Solilóquio

Fluir...
Deixar o vento
(e)levar-se
Dentro de mim.
Cometer erros.
Enfim somos humanos,
Mas a humanidade precisa acertar.
Acerto o olho em direção às palavras
Se movem em seus significados
Movem-se ao lermos
Não há nada mais infinito que sentir
E o mundo lá fora
É só o mundo lá fora
Que mal há em estar só?
Tomo um livro
Tomo um café
Tomo conta da minha solidão
Há de sermos sozinhos
Para sermos melhores
Porque procurar distrações?
Não existe felicidade no tempo
Este tempo se consumindo com o:
não-ter-o-que-fazer-e-o-que-amar
Somos todos inúteis
Há tantas coisas mais simples de amar
Mas escolhemos as mais difíceis...
Escolhemos um ser qualquer no espaço
Sem querer
Só para o tempo não ser contado
Só para não existir o tédio
E o tédio existe sempre
É o tempo
Longe do relógio
Longe de mim e você.
Viver
Junto ao tédio
Existir é uma busca
Do que nunca se encontra.

Caro coração



Parece que neste coração cabem muitas reticências...
Solilóquios mudos
E grandes pontos de interrogação imersos sobre exclamações interrompidas.
“Inútil você resistir ou mesmo suicidar-se” diz o poeta na tela do computador,
E eu pensei em não falar sobre “eus”
Talvez refletir sobre algo mais importante
Talvez não falar de amor
Amor este que vai e volta
Basta abrir a porta
E dizer palavras doces.
Meu coração quer se entregar
Samba-canções adora ouvir
É burro feito mocinha de romance
E se você caso queira dar uma chance
É capaz de fazê-lo se apaixonar.
Talvez se outro coração quisesse se entender com o meu
Não seria mais trágico ouvir melodias
E nem seria triste o dia de São Valentim,
Talvez se o coração que meu coração tanto quer
Pudesse ouvi-lo
Diria que essas batidas não são em vão.
Será que ele diria?
Será que o meu ainda quer?
Será que lá fora o frio esquenta?
Apenas imagino...
E enquanto isso
Este coração continua só.



“Meu coração é um sapo rajado, viscoso e cansado, à espera do beijo prometido capaz de transformá-lo em príncipe” (Caio F. Abreu).

terça-feira, 7 de julho de 2009

Uns olhos...

Seus olhos querem dizer algo
Duas perguntas que não consigo responder
Ha se eu descobrisse o que estes olhos dizem...
Faria pirâmides com os segredos desse teu olhar
Enviesados e desavisados
Não sabem que os meus só conseguem te ver
Talvez até desconfiem
Mas nunca dizem
E a tua risada infantil me deixa mais boba
És esfinge
E eu
Quero apenas te devorar.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Outros ares

Então eu respiro
Mas para isso preciso de ar puro
Então eu voo
Mas para isso preciso de nuvens
Então eu canto
Mas para isso preciso de voz.
Então minha respiração continua ofegante
Me cansei de alguns ares
E voei para outros com a esperança de encontrar um ar mais puro
Mais uma ilusão
Eu canto para afastar este vento forte que teima em vir
Mas ele teima em vir
Sempre
É assim que afasto as nuvens negras
Trazendo as nuvens brancas
Que nunca são brancas inteiramente.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Má distribuição

Não tenho mais espaço
Concreto
Quero respirar
Provocar uma nova sensação
Que sinta menos
Não bastam poesias
Você pode até fazer uma canção
Se não houver amor
Em partes iguais
Tudo se divide.

Para que os olhos ouçam


Se seus olhos me ouviram
É porque são pacientes
Neles existe uma serenidade
Que só a paz de um Deus pode nos dar,
Só acredito em um Deus
Este que se chama amor
Que nos mostra a quem devemos nos aproximar
Este Deus me levou ao teu lado
Sábio
ele sabia que você ia orar por mim
e honrar aquilo que os homens chamam de amizade.
E aquilo que também chamo de amizade
devo encontrar
dentro da força que tua mãe te deu
e que você as vezes me ajuda a achar.
Que todos os olhos ouçam
aquilo que queremos dizer
seja pela voz de qualquer Deus
seja pela voz de qualquer amigo.


Para Haissa

sábado, 6 de junho de 2009

Frio


Tem nevoa por detrás da nuvem,
turva como um passado
o frio traz uma saudade
que cobre o coração,
a chuva é cruel
o meu coração teima em resistir
mas ainda vejo nuvens
cinzas
o sol as vezes aparece
mas chove
e o frio
que não desapega do meu coração.
Cheio de saudade
ele responde:
queria a tua mão aqui agora
fazendo uma concha
aquecendo o meu peito
como quando se pega um passarinho
com medo que ele voe.

Ele

Ele
Tem o brilho de um violão nos olhos
As cordas de um blues na boca
E ao respirar grita com o coração
Ele
Sorri para transmitir calma
E canta com as palavras
Nele
Tudo está em paz
Nunca vi dor mais doce
Na qual ele encanta
Com a voz de um menino
Que procura um lugar melhor
Dentro de si.

Basta um dia

Um dia
Para fazer redemoinho no meu peito
Colocar os pensamentos encharcados de tristeza no varal dos esquecimentos
Trancar o desejo do amor idealizado
A cadeado.
Abrir as portas da imaginação
Se aquecer no frio dos afetos noturnos
Dormir de olhos abertos
Escutar uma melodia,
Só um dia
Para embarcar com corações refeitos
E sentir sono pela manhã
Apenas um dia,
Para se deitar com a noite e anoitecer
E dançar com os ouvidos
Ver os pés sendo levados
Pelo destino feito por mim,
Um dia
E o tempo todo me esquece.

Poeminha


Ela tem os olhos que perguntam:
quais são os olhos que me veem?
Ver fundo?
Mergulha?
Tem um açude com pupílas castanhas,
Tem um menino que pula lá...




Para Isa.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Melodia


Se eu pudesse fugir com essa melodia
Desaparecer pelo ar
Assim que o disco terminasse
E só voltar quando alguém sentisse
vontade de me escutar.
Silêncio
Não queria nem o som dos meus pensamentos
Queria ser uma melodia
Sem razão nenhuma para existir.
Puro sentimento
Puro silêncio
Que se pode escutar.

terça-feira, 12 de maio de 2009


Espero
Puxando a corda do tempo para trás,
Mas a corda se desgasta
À força faço um nó
Para não puxar o tempo
De novo para trás.
Com minhas mãos cínicas
E com a minha força burra
Paro o tempo,
Dou o nó
Esperando que ele seja
Cego.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Dueto de uma nota só


Sussurrou a melodia
Exatamente o que pensava
Sentir...
Desses dias para cá
Só isso
Só.
Sentimentos não bastam
Para sentir
É preciso mais de um coração
O mesmo que compor uma melodia
Que de uma nota só não se faz.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Verdade


Ao menos um sorriso para disfarçar.
Noite sem sal
Parecia dia
Mas nem é tristeza,
Algo como uma rotina
Pôr rótulos em tudo
No silêncio
Na paz
No amor.
Me toquei por aquela canção
Mesmo que não fosse de verdade
O que é de verdade?
Hoje
Tem que ser algo que se possa tocar.
É tudo barato
Não dá para tocar a felicidade
Buscar entre os papéis
Para distrair
Verdade
É se distrair
Com a ilusão.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Filtro dos sonhos


De quê são feitos os sonhos?
Têm tons coloridos?
Gosto de chocolate?
E um cheiro de infância?
Meus sonhos ainda são tão pesados
Carregam desejos não realizados.
Fazia tempo que não sonhava
Você me deu um sonho
Foi rápido e leve
Nem precisou de utopias
Nem precisou de beijo
E chuva
Foi apenas um momento
Um flash
Um insight.
Quando fechasse os olhos
Eu vi o mundo
Estava calmo
E não precisava fugir
Nem correr
Fiquei parada
E vi nuvens azuis
Estrelas
E arco-íris.
Filtrasse meus sonhos
só para eu perceber
que eles podiam ser leves.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Caixinha


Se eu pudesse te colocar numa caixinha dessas
Em que guardamos lembranças
Te guardaria como uma flor
Despetalada e murcha
Como uma prova de que o amor morreu.
Mais ainda vives a pulsar suas cores
Mesmo assim se eu pudesse
Te guardaria
Como um livro que li e gostei
Te guardaria
Como um brinquedo de uma infância passada
Como uma foto de um grande amor que foi embora.
Te deixaria ali na caixinha

E somente retornaria a ver-te quando outro amor me dissesse não
Para recordar
Para lembrar do beijo e do encontro perdido no tempo
Que não volta mais,
Mas não és só lembrança
Eis pensamento vivo latejando em mim
Algo que nem o tempo com seu temperamento rude
Conseguiu te guardar.
Se ele fizesse este favor...
Não precisaria mais lembrar-te
Como um vicio
Ou obsessão do meu pensamento
Abriria a caixinha apenas quando eu quisesse
Apenas
para não esquecer.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Relicário


Só guardo de ti a parte mais bonita
Aquela que me toca
É assim quando gosto de alguém
E não és especial
De cada pessoa guardo o que é mais bonito
Pois não quero poluir o coração
Com a porção feia que me dão.
Que me chamem ingênua
Mas a doçura vale mais que o amargo
De lembranças sujas.
Assim ninguém será ruim
E todos podem valer
Um pouco.
Um abraço
Um sorriso
Um beijo
Uma palavra
Qualquer coisa que inspire uma poesia
Uma bela e ingênua poesia.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Vontades


Vi aquela casinha e tive vontade de entrar
Não entrei
Li Quintana a tarde com ares ensolarados
Tive vontade de escrever
Não escrevi
Senti um cheiro de laranja vindo da casa da vizinha
Tive vontade de provar
Não provei
Ouvi música com melodias contagiantes e sons afins
Tive vontade de cantar
Não cantei
Vi tua boca perto da minha provocando a libido
Tive vontade de beijar
Não beijei.
Tantas vontades...
Tudo com querer
Querer tem doses exageradas de desejo
E se me embriago com essa bebida
Me ponho comovido como o diabo
Inverto a razão
E dou ares de loucura a ela
Tudo pelo querer
Que nunca é santo.
Querer escorre
Mas depois evapora
Feito água
Corre e lava quando é atendido
Mas quando não existe concreto
Apenas fumaça e indícios
A vontade passa
E o vento sopra
Levando os indecisos.
E se tua vontade é esta que basta apenas um momento
Dance com ela a música
Beije e faça sentido.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Estação vaga

Em qualquer sorriso há uma estação vaga
sem nenhuma pessoa para pegar o trem
qualquer sorriso desse que vejo
se mistura com o meu
tímido e burro
dá gargalhadas para que ouvidos escutem
e fecha os olhos para não ver
o mundo.
E eu só sorri...
para passar o tempo
só fiz questão de não existir
de não querer,
fingir.
Quantos sorrisos gastos
e quantas horas gastas pensando em sorrir
quanta vontade de abrir os dentes
e morder
morder cada parte tua
e destruí-las
te destruir.
Te tirar do mundo
e fazer-me existir.
Eu
Me devorasse
com tão poucos sorrisos
e tão poucas palavras de amor
e então o que te faz ser especial?
O que te faz ser ainda
aqui?
Deixa eu pegar o trem que dê para um lugar desconhecido
deixa eu morrer de medo
longe de você.
Posso sorrir?
Posso olhar pela janela
e ver um caminho
longe deste,
a chuva vai bater no vidro
deixa eu abrir a janela
e parar no ponto errado
longe da tua casa
longe da minha
longe do que se diz
que é preciso insistir.
Meu sorriso tem uma estação vaga
alguém pegou o trem e fugiu,
espero o próximo passageiro.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Madrugada

Só sobra a angústia
quando a alegria acaba
talvez por ser mera alegria
dessas compradas
com beijos e cigarros.
Sobrou um pouco de vazio
desse que nunca preencherei
por perder,
vazio
que sempre cai
com a noite.
Cai nos meus braços
depois de me agarrar a tantos,
ninguém se sustenta só
é preciso buscar.
Enquanto a madrugada
se confunde com a minha identidade
faz um traço
que divide a noite do dia
eu penso se o lugar
que estou me cabe ou
se guardo este lugar.
Saio para rua
canto canções
que nunca curam mágoas
nem amores
só curam o tédio
e dão beleza ao que não faz sentido.
Deixo então eu me entender comigo
e ir embora como os pássaros
na madrugada
fugindo da noite
que não foge de mim.

terça-feira, 31 de março de 2009

Pernas

Pernas para quê te quero?
as minhas andam a rodar
pela sala, pelos quartos
entre paredes vãs
que só habitam vontades
inutéis maneiras de se poluir
pés tortos
mãos sujas de afeto.
Não retribuir
fechar as gavetas
a mente
tragar
e esquecer.
Comprar volúpias
curar o tédio
esticar os dedos
desejar
outras pernas
e enfim
caminhar.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Filme Francês

Se a vida fosse um filme
Queria estar num filme francês
Desses antigos
Com mocinhas de cabelo Chanel
E mocinhos fumando cigarro
Queria dançar como em Bande à part
Num café
E beijar debaixo de chuva
Ou com a chuva batendo na janela
De um chalé francês
Queria ser Anna Karina
Brigite, Deneauve
Ou quem sabe Amélie Poulain
Para ser mais contemporânea
Queria mil estórias em uma só
E trilha sonora com ruído de vitrola
Viver a vida em preto e branco
Com lápis nos olhos
E mini-saia
E se em qualquer cinema minha vida passasse
Algum cinéfilo pagaria para ver.

Ação...

Os atores desmontaram a cena
Neste palco nada é previsível
A ação prevalece
E mesmo que a platéia bata palmas
Nem sempre o espetáculo agrada a todos.

Arco-íris

Não vi nada demais no teu sorriso
Preferia ver o arco-íris que vi num fim de tarde
Triste
Foi a tristeza quem o trouxe
Junto com a chuva
Arco-íris é feito de sol e chuva
Dois contrários
Como alegria e tristeza
Sem um o outro não existe.
E é por isso que arco-íris sempre é belo
Porque nasce do sol com a chuva.
Lágrimas perdidas entre as cores
De um raio de sol.
Consolam qualquer solidão,
Mas nem consolei a minha
Nem vi arco-íris
Perto de você.
Deu vontade de perguntar
Se no fim de todo arco-íris tem pote de ouro
Deu vontade de ir até lá e ver...
E largar o arco-íris na escuridão
Da nuvem cinza
De chuva.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Uma flor nasceu na rua!

Pintaram uma flor no chão
como a de Drummond,
Furou a rua
por uma passagem
e não houve cassetetes a impedir
os corações tragados pela vontade de mudar.
O sol continuou quente
e não feriu.
Fardas negras
seriam um confronto
para a liberdade
que também quis passar.
Lutar
e ter liberdade
ainda podemos?
Ainda seremos jovens
e resistiremos?
E tudo isso adiantará?
Perguntas para todos
respostas para poucos,
mas não há medo que derrube
a vontade de tentar,
mesmo que ela fuja
para casa
quase todos os dias.
E todos continuam a caminhar
continuam a buscar
um caminho.
E peço mais flores,
flores para os que não conseguem sentir,
flores para sentir
e sonhar.
E para os que não sonham:
Não pisem nas flores que deixaremos pelo caminho.

terça-feira, 24 de março de 2009

Por acaso

Enquanto paro
olho as poesias
que recitam para mim
cada qual com sua ilusão
eu sigo com a minha
que não cessa.
E o mundo desaba
em grandes desafetos
e o mundo continua
em pequenos afetos.
Nada que me faça chorar
Nada que me faça sorrir
perdido no mundo estou
a seguir os caminhos tortos
que escolho
com a venda que cobre
e descobre
dia sim
dia não
o acaso continua a me perseguir.

A me pertencer

Novo clarão
Novo som para se ouvir
Mais vaga-lumes em noites obscuras
E tons secretos
De pétalas de flor
Que vão
Perfumes
Um revólver para matar o que me faz viver.
Mais inesperados
Lucidez e loucura
E todas as cócegas do mundo
Em tudo
Particularidades
Corpo
Pedaços de corpo
Em torno
Poesias
Inspirações poéticas
E rimas periódicas
Em cada estação
Pessoas
Rudes e banais
Com toda força no coração
Cartas e datas
Vícios e desvios
Desvarios
Mais significados
Como estes sobre mim
A me pertencer.

Ai se estas horas passassem...

Ai se estas horas passassem como naquela tarde
Com o deslizar de suas mãos extrovertidas.
Morderia teu lábio inferior
Sugando cada gole do teu liquido
Até me embriagar
E logo tuas pernas
Intimas
Convidariam as minhas
Para um encontro
E seriam coxas e coxas
A se esconder
A procurar a parte mais oculta
Em cada corpo.
Meus seios pediriam tuas mãos
E elas atentas
Me apertariam com força
E intenção
E não existiria roupa que quisesse atrapalhar
Cada encontro de nossos ventres
Cada mordida minha em tua pele.
Teus dedos silenciosos
Guardariam os segredos descobertos
E poderia você me abraçar com ternura
Nua
Eu te sentiria com calma
Eu comandaria teu quadril
E seria totalmente egoísta nesta hora
Para procurar o meu prazer
No teu.
Seu cheiro iria me possuir
Nossos pêlos se apaixonar
E tua boca se quisesse
Poderia explorar
Mais segredos
Em qualquer lugar
Que a coubesse
Te pediria para ser minha
Só nesta tarde
E repetiria cada deslizar
De coxas
Cada encontro
Cada mordida
Até me enjoar com cada gozo
Teu e meu.
Ai, se estas horas passassem como naquela tarde
Não seria eu a imaginar
Seria eu e você
A nos saciar.

sexta-feira, 20 de março de 2009

A que será que se destina?

Viver não tem destino
Passamos da vida para a morte
E sonhamos em vida depois dela
Mas a vida aqui
Não se destina
a nada predestinado.

Em mim

O que há em mim que não cessa?
Se todo ar me devora
Soprando de mim
O que não quer viver
Longe
Distante de mim
A calma
Pulo na escuridão para não ver
Mas há vagalumes em meu quarto
Anunciando a claridade
Que quer chegar
Mas eu não deixo.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Mais

Quanto mais devaneio
mais delírio
quanto mais quero
mais desejo
quanto mais amo
mais gosto.
Tudo em mim
exagera
tudo em mim
enche até a borda
e derrama.
Exagero
o meu
eu
até a burrice
mais
e
mais.

Coração Partido

Corte este coração em pedaços
Faça porções
e dê para os que mendigam
amor.
Que eles façam bom proveito
do que ainda sobrou
ruína deste teu mandato
déspota.
Largue estes pedaços na rua
que os pássaros
destruam
com fome
o que resta
da última festa
que fizeste.
Jogue no lixo
mande reciclar
e com este faça um novo
límpido
coração.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Fonte dos desejos

Lembra das moedas que atiraste?
Numa fonte
distante
em que mil corações despedaçados
imploravam
um desejo atendido?
No inverno do querer
desejasse
e sob o comando de um deus qualquer
foste atendido.
Meu coração enfim era teu
com toda cor vermelha
e batidas apressadas...
Lembra do que desejava?
Realizaste.
Mas eu como cética
nunca pedi a deus nenhum,
nenhum encontro
nenhum carinho
nem mesmo liberdade
desta prisão
que é querer-te.
Vivo agora do teu desejo
desejo antigo
jogado em forma de moedas
numa fonte de amor inesgotável,
moedas banhadas de ouro
superficiais desejos
atendidos.
Desejo este
que de tão realizado
virou meu
tanto que nem te lembras
quantas moedas jogaste
nem lembras porque jogaste
nem lembras que queria em troca
amor.
Mais desejos fizeste depois
para mais corações frustrados
em fontes de sentimentos diferentes
amor, ódio, sexo, paixão, amizade...
Quantos corações se apaixonaram
por teus pedidos?
E porque tens tanta sorte
que te peço
Pegue de volta as moedas que atiraste
para que mais nenhum desejo teu seja atendido.

domingo, 15 de março de 2009

Pássaros

Que falta faz voar...
Voar para dentro
do que não é meu.
Gaiolas feitas com abraço
que protegem
e não sufocam,
voar assim tão alto
sem medo de cair...
Abro os braços
e só há vento.
Vento voa
vento sopra
que sopre para longe
o que não me deixa voar.
Sopre
quero voar mais alto
do que o alto que posso ver
Voar
Quero voar mais alto
que qualquer pássaro.

sábado, 14 de março de 2009

Tempo líquido

Conta gota
Cada gota
Despeja
O líquido.

Labirintos

Quantos labirintos sigo em mim?
Se estas ruas não satisfazem
boto a saudade bem guardada
para não chorar.
Não perco tempo
esse tempo pra mim
é irrestível
mas os labirintos
cada dia são mais difíceis
em cada um que entro
é mais um caminho perdido
que sigo.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Descolorido

Me deram pra usar um sorriso,
de falsidade amarela
Que não cabe no meu rosto
posto
que eu já tenho meu próprio sorriso
cinza
mistura do negro humor
que existe em mim
com o branco da paz
que consigo por aí
às vezes.
Misturo meu sorriso cinza
com o amarelo que me deram,
mistura que não dá certo
já que amarelo com cinza
não forma uma cor bonita.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Utopia


Ainda se acredita no amor
este
que passa longe
de ser
o que achamos ter encontrado.

terça-feira, 10 de março de 2009

Um pouco de tempo

Preciso pedir pro tempo
parar um pouco
me espera!
Houveram dias em que ele parou
no momento certo,
foi calmo escutar a sua voz
doce.
Hoje escuto a sua pressa
com passos de ponteiro de relógio
compassados
mecânicos
sem sentimentos...
Quase não dá tempo de amar.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Jardim

Então é noite
e tanto faz estar frio
ou calor
penso em várias estações
sou responsável por tempestades
assumo cada flor que nasce
voo com o vento do outono
e desejo um calor que não sufoque.
Colho estas flores
mas não tenho para quem oferecer
ponho num vaso
e vejo crescê-las
sem dono
só o sol que cuida
e a chuva as vezes lava.
Meu jardim ainda cresce...

domingo, 8 de março de 2009

Acordo

Acordar sem o sonho
preso no pensamento
Fingir que a tarde vai colorir
com seu crepúsculo
sem doer
Esperar a noite
para sorrir
sorrir sem amar
E depois dormir
como se tivesse ainda
algo para sonhar.
Sem esperança acordo,
mas a manhã é linda
e me chama injusta
por não perceber essa beleza.

sábado, 7 de março de 2009

Desisto

Se ao menos os olhos se abrissem
Com estes mil socos
Que me dão
Mas não,
Se fecham
E sonham.
Se ao menos fosse doce
Como há algum tempo atrás...
Eu só precisaria de um afago
Seria triste da mesma forma
Mas seria terno.
Se ao menos eu quisesse esquecer
Mas vem como um vazio
E preenche tudo em mim.
Não tem mais nada que me faça querer
Não tem mais abraço nem beijo
Nada
E ainda quero
Como se querer bastasse
E porque ainda quero
Desisto
Para poder parar de querer.

Fuga


Se preciso fugir
pulo do prédio mais alto
a queda é maior
compensa a fuga
com a dor.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Dói

Dói no corpo
como machucado
dói na alma
como morte
sobe seco
pelo pescoço
aperta
e dá um nó
Sangue ferve
raiva
esperança
espera
e não alcança
Amargo e quente
no gosto
e o cheiro doce
fica enjoado
prato frio
que se come calado
Na pele
a cicatriz que não sara
no mundo
tudo é inútil
mais tarde
essa dor
vira insulto
a culpa
fere
a inércia mata
é dor que dói
e não para
lateja
estoura
rasga.

Acho que agora posso chorar.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Flerte


O olhar do outro é sempre atraente
quando olha
o outro
a frente
rente
incomoda
provoca o ego.
Distraído
ele sente.
Os olhos falam,
são dois pará-raios
dos outros olhos
que olham.
Quando se percebe um olhar
reto
para o seu olhar
a alma inibe-se
depois se assume
como um pavão
tenta ser mais
e provoca
quando
permite a provocação,
é uma luta de egos
egos infláveis
pelo estímulo do outro olhar.
Olhos mentem
são dois atores
cheios de maquiagem
e sem nenhum talento
para interpretar.

terça-feira, 3 de março de 2009

O amor é egoísta

O amor é tão egoísta,
dentre tantas pessoas no mundo
escolhe apenas uma
para querer.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Película


Reconhecer a alma
pela máscara
a película fina que envolve
cada ser,
um profundo conhecimento
só é possível depois
do re-conhecimento
das formas que habitam
o corpo de cada um.
Cada ser
tem de ser
vários
para sobreviver
o que se há de ter
na vida.
E antes que se faça uma ferida
sobre a pele exposta
procurando cavar o verdadeiro
é necessário uma caricia
na pele que se vê
a primeira vista,
como reconhecimento
o tato
o primeiro sentido a reagir
dentre todos os sentidos
que usamos
para conhecer.

domingo, 1 de março de 2009

Quero

Canso de rimar com a solidão
canso de falar do tédio
canso de cantar o amor
estes termos todos já não cabem
o que busco agora é a felicidade
tranquila
como mãos amigas
e olhos ternos
como cheiro de pitanga
e gosto de hortelã.
Quero mais sorrisos necessários
e palavras doces
quero voar nos pensamentos
sempre avante
como um pássaro
livre
sem gaiolas
ou cadeados
quero pés
sem peso
pisar como plumas
este meu chão de vidro
quero paz
e doce de banana
quero abraço
dado por quem se dar
e beijos de lábios sensíveis
alegria
quero festa
e tudo o que me resta
e o que sobrar.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Olhos azuis

Olhos azuis
e ternura
Parecia o céu
com paz e calma
pêlos branquinhos como nuvens
Me sentia tranquila
quando seus olhos piscavam
pros meus
Falo no passado
mas e o presente?
onde estão seus pêlos fofinhos?
quero dar carinho
e ninguém se importa.
São só quatro patas
e miado.
Lembro do seu último olhar
parecia triste
mas sereno como sempre
não gostava que o sufocassem.
Aprendi com ele
entre arranhões
e mordidas
que amor tem que ser dosado.


*Dedicada ao meu gato

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Tempo Vermelho

Meu tempo interior
não é amarelo
é vermelho
como o sangue quente
que jorra
das carnes do açougue
tentando sobreviver
aos últimos minutos
antes da morte.
Vermelho
ele pulsa
a cada segundo
que passa
e a cada segundo
que fica.
Ficam os beijos
ficam as noites
ficam os dias
todos ainda vividos
dentro deste vermelho rubro
do meu coração,
se a cor do mundo é amarela
como o tempo mal-vivido
cheio de tédio
adormecendo
em praças
e películas de filmes antigos
amarelando
apodrecendo
passando
em cada passo do relógio.
Eu tomo o gole vermelho
de um vinho
para misturar
com este tempo amarelado
o vermelho quente
que se acende
sempre ténue
dentro de mim
como uma chama
nem vermelha
nem amarela
mas laranja.



*Inspirado no poema de Renato Carneiro Campos-Tempo Amarelo

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Contemplação

Escrever nada mais é
que contemplar
as cores
os cheiros
os ritmos
que cercam.
E a cada
ritmo
som
odor
não contemplado
eis o papel em branco
desolado
como um rosto triste
abandonado
por mal-me-quer.

Voei

A chuva levou até as palavras
e lá naquela rua
tive alguns devaneios
tirei os pés do chão
e voei
voei sem sair da órbita.
Não sei se posei num passado
se pisei num futuro
ou se estava dormindo no presente
e não fiz questão de acordar.
Será que já acordei?
ou faço questão de dormir?
o mundo é o mesmo
esteja sóbrio ou não
Embriago-me e curo o tédio
por alguns segundos.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Extraconjugal

Como descrever a felicidade conjugal?
Com algo igual.
Precisa morder com aparelho e língua
Precisa ter a sua pinta(s)
E tem que ter cabelo emaranhado
Visões diferentes do mesmo prazer
Que vem quente e gela
E a tarde
Que desperta
Acorda os sentidos que andam meio tortos
Desconcertados
Cada quarto teu é o teu quarto
Para quê sonhar acordado?
Acordados
Vemos a hora passar
O principio de toda felicidade é o toque
É o cheiro que não se esquece
Ainda mais quando anoitece
Terminado tudo, deixe as coisas quietas assim
Boca se entende com boca
Corpo com corpo
E todo o resto
Quem complica
É a mente



*Poesia de Rafaella e Paula

E os corpos se entendem

Tanto tempo pra perder
tentando encontrar
o que não se acha mais.
Tanto tempo pra gastar
na sua frente
E o escuro vem
pra minha boca se entender com a sua.
É o que tenho
dentro do que é seu.
Ainda posso sentir suas mãos
e esse sentir dura uma eternidade
mas meus sonhos estouram
como balões
não podem mais voar
sem esquecer os pés que ainda cravam o chão
mas estes segundos teus
em mim
incham
e começam a flutuar
como pensamentos ditos
que não te surpreendem.
O amor só surpreende quando se ama.
Se há esperança
entre este abraço
este quarto
este eu
não sei.
Só sei que sinto.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Dorme

É hora de dormir
meu bem
já é quase a hora
de o mundo se acabar
quero morrer sem sentir dor
quero morrer de olhos fechados.

Domingo

Não se espera quase nada do domingo.
Nem chuva
só missa
tv
futebol
e tudo é tão melaconlico
têm mensagens tão repetitivas
e programas tão chatos.
Têm sorrisos caros que não dizem nada
e as mesmas músicas
tem almoço
e familia
e eu
quase ria
se fosse tu
em qualquer dia
até que essa rima ajudaria.
Mas é domingo
e tudo é chato
até os bêbados querem dormir
para curar o sábado
já faz tempo que domingo
é sempre domingo.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Sonhos

Sinto o tempo correr
entre os dedos
que não são meus
escorregar entre escolhas,
a sensação que sinto ao pressionar cada dedo
é uma doçura que só existe
em sonho
sonho de querer
como algo calmo e verdadeiro,
as vezes o corpo fala melhor.
Que fosse tudo assim
pressa em viver
me tira o sono
e o sono revela
a verdade
dentro dos sonhos
que se postam distantes
em direção oposta de chegar.
Mas temos o mesmo lugar para ser feliz
este que ainda podemos encontrar.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Nublado

Dias nublados são como rostos
Com uma melancolia simples
Sem muito com que se alegrar
E sem nenhuma dor também.
Vento frio que vem da janela do quarto
Vontade de se aquecer
Tão frio quanto um coração vazio
Anuncia a chuva
Que vem do céu
Para terra
Mas em minha terra não há chuva
Nem sol.
Nublado sempre é sem graça.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Entre as ruas

Ruas estranhas passam na noite
árvores mortas contam o tempo
e rostos sorridentes brindam
a felicidade falsa.
Me perdi entre estas ruas
a procurar algo que não quero encontrar
me perdi entre as ruas
e os rostos sorridentes me convidaram para dançar
sob as luzes de postes
e a segurança de portões
repeti as músicas para dançar mais uma vez
e encontrar
o que deixei em alguma gaveta.
As poesias fugiram
me deixaram dançando com outros gêneros
e os bares cheios para mim parecem vazios
não sei porque
não consigo lembrar o que quero
entre as ruas
todo silêncio constrange
e os rostos sorridentes
não querem parar de dançar e esquecer
me olham tentadores
e meu olhar tenta fugir do vazio
que buscou em algum momento.
Minhas mãos buscam entender
porque meu coração se afasta
a cada dia
da casa que me aconchegava
meus pés ainda sabem o endereço
mas de tanto entorpecer meu corpo
andam tortos
porque nestas ruas
se esquecem
e não voltam
acabam dormindo
em uma rua qualquer.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Não-correspondido

Foi o acaso
encontrei.
Foi a vida
Me levou
Pensamento
Distante
Mãos
Instantes
Palavras
Cerimonias
Me disse adeus
e foi embora.
Uma noite ainda me quis
Busquei mais estrelas
e preenchi o céu
nublado.
Mais uma vez
morri
e a cada dia renasço
só para curar o meu cansaço
de não poder ter.
Não-correspondido
que corresponde
a não te quero.
Seja feliz
e boa sorte.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Destino

Mãos tocam coisas
pés tocam chão
Enquanto tuas mãos me tocam
meus pés não tocam o chão.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Noite Cheia


Noite fria, cabelos com o mesmo penteado, a mesma roupa, e os mesmos tênis all stars que revelavam toda a sua personalidade, e no coração apenas o vazio de se conformar em estar só. Ela ainda não sabia desejar, antes daquela noite pensava que sabia, mas naquele dia nem pensava em desejo, quando nos conformamos com o vazio ele nos leva como um balão aonde quer sem que nem percebamos, caminhamos como um saco vazio levado pelo vento, sem destino e sem nenhuma esperança vinda de sonhos. Nem tinha percebido que estava livre, que os sonhos inúteis que tinha tido há alguns meses atrás tinham passado, nem tinha percebido que seu coração estava cansado de bater sozinho e que o frio da noite poderia se transformar em calor se quisesse e desejasse, mas só se quisesse e desejasse. Escuro, ruas vazias e caminhos tortos como seus pés, a noite era pintada de rubro, como seu coração, anoitecia em alegrias inventadas a cada esquina, luzes de postes, olhares luminosos e bocas fingidas. Pensou que poderia também inventar uma alegria, dessas bem canalhas, abrir garrafas e acender cigarros, sorrir e inventar estórias e elogios, inventar um outro eu, menos sincero e mais interessante, para alegrar pessoas e inventar a alegria em si mesma, fingir que a felicidade era eterna, sabia que sabia fazer isso e fez, “se tá chato agite”. Mas seu rosto se cruzou tão depressa com outro que de tão vazio também nem o percebeu, não se perceberam. A principio, pois o outro rosto era mais cínico que este, e mais extrovertido e sonhador, nem precisou de garrafas e cigarros, aliás nem fumava, a principio, e foi em direção a este rosto que o aceitou como um rosto novo em meio a sua rede de rostos que se ampliava. Logo o novo rosto era mais que um rosto, eram palavras, olhos de castanho profundo e singelo, gentileza, casa, comida e pés descalços, conversas, insinuações mais tímidas que eu, mãos, beijo, perfume e adeus.
- Adeus? Mas não vá agora, pode ficar.
- Mas tenho que ir. (com o coração indeciso).
- Então tá bom, vou te ligar.
- Pode ligar... (não acreditando)
- Vou ligar!
E ligou...
E os dias se fizeram cheios outra vez...
Tão cheios que a esperança morre e nasce a cada segundo, e enquanto eu estou escrevendo este texto, aquele rosto deve esta passando em outro lugar mais divertido que a minha sala de estar, mais conversas longas poderão conquistá-lo, e mais um beijo pode desencadear uma paixão. Mais e mais paixões estarão acontecendo neste instante, mais e mais corações vazios estão sendo preenchidos, e o mundo não é feito só de rancores, e o amor é um mero instrumento da felicidade, pergunte a ela o que sente, se sente-se vazia. Pergunte se ela não quer encontrar aquele rosto de novo. Pergunte a ela.
Ela encosta a cabeça de novo no vazio, e se põe a indagar onde estará aquele rosto agora, aonde estará aquela noite?

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Castelos

Todas as poesias nada sabem sobre o amor.
Sentimento imprevisível
Que se manifesta de forma tão previsível.
Crianças construindo um castelo
Que pode ser bem alto e nunca cair
Ou que pode ser de areia
O vento derruba
E o mar destrói.
O amor é o vento e o mar.
Sua força é constante,
Vai e vem como o mar
E passa como o vento.
Crianças constroem seus castelos
Que de nada adianta serem construídos.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Era a flor...


Era a flor
tão frágil quanto eu.
Vi seus espinhos guardados
tão doce era a flor sem eles.
Me cortei e chorei
deixei ela num canto
quis ficar longe
para não me cortar de novo.
Tão doce era flor sem esses espinhos
mas ela teima em me cortar
e eu só posso dar a ela o desprezo.
Desprezo delicado
era tão bom quando eu afagava suas pétalas
sem machucar
vermelhas
com cheiro de paixão.
Descansa teu coração
teu caule não pode ter só espinhos
nem o meu só rancores.
Descanso o meu
e deito ao teu lado
sentindo o perfume
o vento passando sobre suas pétalas
vermelhas
vermelho como meu sangue
a pulsar
dentro do meu coração tão só
repousa
estou ao teu lado
mas estamos longe
ficaste em cima da montanha
eu desci para procurar outro mundo
com cama quente e chocolate
vou ficar por lá.
Fica com este carneirinho
vai te proteger
mas deixa ele passear
não tenha medo de ficar só
repousa
Como é bom o vento nos cabelos
repouso.
Logo minhas raízes se soltam
as tuas ainda ficarão cravadas
mas continuarás linda
vermelha rosa
até que alguém te colha...

domingo, 18 de janeiro de 2009

Dois mundos


Meus pés estão em dois mundos
Dois mundos imperfeitos
Dois olhos cegos
Dois braços a remar
Numa correnteza sem fim.
Enquanto um lado pesa
O outro segura.
A mais lado deste lado do que do outro
Diz um.
Há mais gente neste mundo
Diz o outro.
E nenhum encontra a solução
Para as guerras infinitas
Que seus habitantes fazem.
São dois corações
Vermelhos e inconseqüentes
Quentes e desabrigados
Pelo corpo que os obrigam
A ter só um corpo.
Para resolver a briga dos meus mundos
Ando pelo meio
Em linha reta
Como um bêbado
A cair em cada lado.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Tarde passa


O futuro não pode dar medo.
ele está lá
preso na linha do tempo,
a frente.
A frente também do passado
que também não pode dar medo algum,
pois está atrás
e não pode voltar.
Não pode ser triste a tarde
o sol está brilhando
amarelo crepúsculo
e o céu dá um tom infinito a vida
que passa.
Passa como os encontros
como as recordações.
Manda me avisar
que alguém já foi embora
como os encontros
e as recordações
e os flashes soltos de saudades
que teimam em existir,
estão soltos ainda
a pertubar sonos leves
cheios de ilusão.
Cheios de ilusão são os sonhos que ainda insistem
e não podem se realizar.
Está claro como a tarde
que no caminho existe um siga em frente
há alguns quilometros do que já passou.
Mas é doce lembrar
é doce persistir
quando não se entende o presente
que está mais presente que o passado.
Então eu guardo o cheiro que ainda levo
dentro deste baú
junto com noites,
mãos,
cartas,
e brigadeiros.
Guardo
porque no futuro ainda devo lembrar
mas agora neste presente
devo esquecer.
Como o sol que vai se pôr mais tarde
para um novo amanhecer.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Simples(mente)


Simplesmente
canções que se escondem
por entre os ouvidos.
densos amores,
densos sentimentos,
dorme tranquilo
quem não sonha em repousar.
Claro da noite para quem pretende sonhar.
Uns braços para embalar meu sono
viajar agora somente em segredo.
Em pensamento apenas o impossivel
tão possivel de existir.
Mais tarde quero o mundo e seus afetos,
ruas e casas com jardim.
Quero ser a flor
a flor procurada por beija-flores,
e mosquitos mesquinhos,
que não vão escapar.
Que seja feia a rima,
ela é minha,
sou em quem faço.
Sou eu quem faço o meu destino
sou eu quem ponho nome
na dor
no amor
na alegria
e na ilusão
que sinto.
Sinto por isto também.
Mas antes de sentir paro de pensar
porque o pensamento não sente.
Por isso que penso
demais
e não paro de pensar
e de tanto pensar
penso
que tudo que penso
é puro sentimento.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Janelas


Feche a janela
só quero ouvir o barulho do vento,
se o calor não passar
que fique.
Logo a cidade muda
e as pessoas
não.
Temos que trancar todas as janelas
mesmo que fique abafado.
Quando o amor encontra o vazio
ele foge.
Mas há dias em que o tempo muda,
chove numa terra seca,
igual aquela que o moço falou.
Há dias em que as noites são longas,
há dias de chuva com sol,
Casamento da raposa.
Mas janelas são feitas para abrir,
e meu coração tem janelas que só abrem por quem tem a chave.
Qualquer dia desses eu tranco uma
e jogo a chave fora.
Para o lado de dentro.
Para que só eu consiga abrir ou fechar.
Se fosse possível ser dono do próprio coração...
Faria cercas no meu para que não arrancassem as rosas de seu jardim.
Regaria com água de chuva todos os dias,
ao invés de lágrimas,
e deixaria uma janela sempre aberta para que entrasse o sol.
Quando voltam para abrirem as janelas?
O moço falou que isso as vezes demora.
Tomara que não esqueçam,
no escuro não dá para ver coisa alguma
e o calor vai ficar insuportável,
logo vou ter que abrir uma janela.
Mas aonde estão as chaves?

domingo, 4 de janeiro de 2009

Canção

Deus e o seu infinito silêncio
anda a completar passos invisiveis sobre a terra.
A terra que de tão velha merece sombras menos escuras,
e pés leves de anjos doidos que possam durar mais que vinte anos.
Silêncio breve de que já tenho
ando a buscar barulhos para o meu coração,
que bate calmo ao som desta canção,
tão digna de me suportar.
Há de me suportar mais pessoas,
há de me suportar mais sentimentos,
para que eu mesma me suporte.
E se eu nunca entender minha mãe e meu pai,
e se eu nunca entender o amor,
quero estar calma como uma melodia,
para continuar esta doce tentativa que é viver.
Continuar tentar a vida,
tentada a morte.
O sol se põe se pondo junto um dia,
mais um dia,
o que há de ser dos outros dias?
Para quê se perguntar sobre o amanhã?
Ando e os meus pés tortos me levam
e ainda há medo,
e enquanto houver terei vida para viver,
pois esta é a condição que se dá.
Canção rima com coração,
o amor ainda vai rimar com respeito,
e a dor as vezes pode ser mera ilusão,
feita simplesmente para rimar.
Como a luz para se apagar,
e a escuridão para se iluminar.
E de tanto ar que se ponha para que eu respire,
vou ainda respirar perfumes mais doces,
e desejar mãos mais brandas para me sufocar.
Sufocar com sufoco louco e rouco
abraços doces.
Em lençóis brancos,
macios
como sonhos
ao som de músicas
e músicas.
E hei de fazer uma canção.